sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

PACTO PELA EDUCAÇÃO



Uma mega solenidade foi patrocinada pelo Governo Colombo para o lançamento do Pacto pela Educação. Sem deixar de mencionar que “A educação teve e tem uma presença fundamental no modelo de desenvolvimento de Santa Catarina” e que o estado tem posição de destaque nos índices de desenvolvimento da educação básica, o governador anunciou investimentos na casa dos R$ 500 milhões com o objetivo de elevar ainda mais o nível da educação em Santa Catarina.
Dentre os três eixos em que o governo pretende investir nos próximos anos é oportuno deter-se e comentar o tópico relativo à aplicação das tecnologias na educação. O secretário de educação anunciou uma medida extraordinária no que se pode chamar “mergulhar de cabeça” nas tecnologias: “Doze mil professores do ensino médio receberão a partir deste mês tablets com todos os livros didáticos que serão utilizados no ano letivo. “Temos que introduzir a tecnologia no cotidiano da escola, não apenas como um laboratório isolado que você tem que ter autorização para entrar”, opinou Deschamps. Para complementar, as escolas terão lousas digitais, também conhecidas como computadores interativos, promovendo a inclusão digital de docentes e estudantes”.
O secretário que tem uma longa trajetória na educação sabe também que tal recurso poderá encontrar alguma dificuldade na sua operacionalização, pois certamente ele também conhece os conceitos de “nativos digitais, imigrantes digitais e analfabetos digitais”. Em relação ao uso de tecnologias bom número de professores pode ser qualificado com o adjetivo jocoso e não pejorativo: “professauros”, mistura de professor com dinossauro.
De qualquer modo há que se considerar que o propósito do governo tem alto valor social, educacional e veio muito boa hora também para elevar a autoestima do professorado neste início de ano letivo.
Feitas estas considerações pode-se apresentar o objetivo principal deste texto que é refletir sobre os impactos da mudança de época que se está vivendo, também chamada de “metamorfose civilizatória que tem um paralelo muito próximo na medida em que nenhuma atitude humana impedirá o processo. Antes se trata de distinguir se o processo de metamorfose aponta para a vida ou para a morte; em quais proporções a espécie primitiva, que no mundo animal se reconhece como – taturana = semelhante ao fogo – transformar-se-á numa bruxa ou numa princesa”2.
Tal processo altera os paradigmas tradicionais e por conta desta situação nada e ninguém deixa de ser afetado. Nesta mudança de época parece que nenhuma resposta cultural já apresentada é capaz de responder aos desafios do presente.
Nem os pais, nem a escola, nem o governo, nem ninguém é reconhecido com poder e intensidade na proporção e alcance dos meios de comunicação de massa os quais ditam comportamentos e projetos hegemônicos e passageiros. Neste contexto corre-se o risco de enxergar de modo equivocado a ação da comunicação apenas sob a ótica negativa e perniciosa sem perceber que os jovens são também influenciados por ela de modo positivo e criador de qualidade de vida.
A revolução tecnológica incute nas sociedades e muito fortemente nas novas gerações a sensação de superpoderes que faz com o que o “mundo seja pequeno demais pra nós dois” o ambiente virtual e habitual da hiper conexão cria o paradoxo da presença na ausência o que pode ser chamado também de “presença comunitária sem vida comunitária”3
O acesso às redes sociais cria uma infinita rede de informações e de compartilhamento que muitas vezes, como já se acenou, torna-se uma nociva perda de perspectiva de futuro que compromete a ética e o cultivo de valores, fazendo da juventude “uma geração pronta para viver sem culpa”.4 As diferenças entre a geração Y e os jovens de décadas anteriores aparecem muito presente nas formas de organização. Embalada pela tecnologia e por estímulos consumistas infundidos pelos MCS, especialmente pelos programas reality show, com relativa frequência os nativos digitais pensam a partir da individualidade.
No que se refere ao acesso à informação e comunicação os jovens contemporâneos estão longe da passividade imposta com o advento da imagem e do som, eles dominam as novas tecnologias, e a rede mundial de computares, como o próprio nome afirma, minimizou a aldeia global, as redes sem fio, os aparelhos tecnológicos descartáveis, as redes sociais criaram interatividade jamais vista.
A maneira como a juventude deste início de milênio se comporta tem seu fundamento nesta teia de tecnologias em que eles são ouvidos sem ser vistos, são vistos sem ser considerados e nenhuma classe social esta isenta desta “necessidade de estar sempre conectado”5 por isso mesmo se disse que o “pacto pela educação” veio em boa hora, uma vez que o acesso a intercomunicação se dará na forma presencial tendo como espaço físico a sala de aula o que permitirá que não obstante a hiper conectividade em que estão imersos seja possível cultivar neles conexões pessoais e duradouras capazes de resistir às crises.
Independente da faixa etária o protagonismo da atual geração se realiza por meio da tecnologia e a exclusão na atualidade não é mais econômica, e cultural, embora isso não possa ser desconsiderado, porém quem efetivamente está fora do processo são aqueles que vivem alheios às linguagens midiáticas. A complexa rede interativa que se estabelece por meio da rede mundial de computadores influencia todas as estruturas da sociedade a começar pela família. Muitas vezes as pessoas que moram na mesma casa vivem a experiência do isolamento, da solidão, da solteirice e do individualismo, da competitividade em detrimento do diálogo e da partilha.
A detenção do conhecimento e dos saberes está longe de ser reconhecida na pessoa dos pais, dos professores e dos outros tradicionais conhecedores e estudiosos. Seja na família, seja na escola é imprescindível criar relacionamentos e formas de direito alternativo que viabilizem o uso adequado e sempre mais proveitoso dos recursos disponíveis. A organização desta geração em redes sociais faz com que seus participantes acreditem que o “planeta lhes pertence” e por isso mesmo é importante acompanhar esta conquista ajudando a perceber que “Nossa tarefa é cuidar do mundo por inteiro. Ser capaz de viver o mais simplesmente possível de modo a permitir a todos simplesmente viver” (Ernst Friedrich Schumacher).
Os jovens são uma geração aberta ao mundo e a solidariedade. Há poucos dias a tragédia de Santa Maria mostrou ao mundo exemplos altruísticos que perderam a vida com o intuito de salvar a outros. Estes e diversos outros exemplos mostram o “coração solidário” desta parcela da população. A internet pode se tornar o diferencial desta geração com as precedentes. Enquanto as anteriores precisaram se expor fisicamente correndo riscos e sendo vitimados pelas ditaduras como ocorreu no Brasil na década de 1970 ou com o movimento “fora Collor” nos anos noventa, ela pode se organizar a partir das redes sociais.
Uma pesquisa realizada pelo instituto Data Folha com jovens entre 18 e 24 anos confirmou que a juventude acredita em mudanças políticas a partir das redes sociais, de fato tem se visto fenômenos como a chamada primavera árabe confirmar esta realidade. Obviamente que as instituições sociais e muito particularmente a escola precisa facilitar não somente a inclusão digital, mas também seu acesso seguro e saudável.
A recente onda de ataques e de ameaça à segurança pública em Santa Catarina fez a juventude local se tornar notícia mostrando sua faceta negativa, violenta e descompromissada. Não sem razão o Governador João Raimundo Colombo declarou no lançamento do pacto pela educação: “Fazendo a educação presente e forte na vida das pessoas é o melhor momento de conter o processo de crime organizado e de desorganização da sociedade". Acrescentou: "Ela está inteiramente dentro desse contexto, ela é o instrumento mais forte de nós darmos força a princípios e valores. É através da educação que a gente fortalece a consciência e o princípio de organização social".
Simultâneo ao crescimento dos grupos sociais midiáticos precisa crescer a compreensão de que estas redes podem ser espaços de sadia convivência e interconectividade cultural e educacional. Pesquisas de mercado dão conta que 85% dos jovens em idade escolar utilizam o celular e o reconhecem como dispositivo mais importante da vida. Supera a casa de 80% os jovens que utilizam esporadicamente a internet e pelo menos 50% tem acesso diário a este recurso. Ignorar esta realidade como elemento decisivo para a construção da cultura da paz, dos valores e da ética é uma falta grave que a escola pode incorrer.
Não utilizar adequadamente a rede mundial de computadores para fins educacionais equivale a dizer que se está de acordo que está maravilhosa invenção da técnica seja um “campo profícuo para a difusão de ideologias que diminuem a vida6 e a qualidade de vida. O governo junto com a proposta de revitalização da carreira do magistério, que embora ainda não seja satisfatória, e a disponibilização das novas tecnologias para a educação e para os educadores mostra sua preocupação neste quesito, cabe agora ao professorado e aos gestores fazer a parte que lhes compete a fim de que o sonho de Paulo Freire se torne realidade e que: “A educação proporcione a criação de um mundo onde seja menos difícil de amar”. 
 
1 Texto elaborado a partir dos dados contidos no Texto Base da CF de 2013.


2 ALBERTON, Elcio. Formação Mistagógica do Docente no Contexto da Metamorfose Civilizatória. Dissertação de mestrado – PUCPR, 2012, p. 23.

3 CNBB. Texto Base CF 2013, p. 13.

4 LIBANIO, J.B. Para onde vai a juventude? São Paulo, paulinas, 2012, p.34.


5 CNBB. Texto Base CF 2013, p. 17.


6 CNBB, Texto Base da Cf 2013, p. 42.