Uma mega
solenidade foi patrocinada pelo Governo Colombo para o lançamento do
Pacto pela Educação. Sem deixar de mencionar que “A educação
teve e tem uma presença fundamental no modelo de desenvolvimento de
Santa Catarina” e que o estado tem posição de destaque nos
índices de desenvolvimento da educação básica, o governador
anunciou investimentos na casa dos R$ 500 milhões com o objetivo de
elevar ainda mais o nível da educação em Santa Catarina.
Dentre os
três eixos em que o governo pretende investir nos próximos anos é
oportuno deter-se e comentar o tópico relativo à aplicação das
tecnologias na educação. O secretário de educação anunciou uma
medida extraordinária no que se pode chamar “mergulhar de cabeça”
nas tecnologias: “Doze mil professores do ensino médio
receberão a partir deste mês tablets com todos os livros didáticos
que serão utilizados no ano letivo. “Temos que
introduzir a tecnologia no cotidiano da escola, não apenas como um
laboratório isolado que você tem que ter autorização para
entrar”, opinou Deschamps. Para complementar, as escolas
terão lousas digitais, também conhecidas como computadores
interativos, promovendo a inclusão digital de docentes e
estudantes”.
O
secretário que tem uma longa trajetória na educação sabe também
que tal recurso poderá encontrar alguma dificuldade na sua
operacionalização, pois certamente ele também conhece os conceitos
de “nativos digitais, imigrantes digitais e analfabetos
digitais”. Em relação ao uso de tecnologias bom número de
professores pode ser qualificado com o adjetivo jocoso e não
pejorativo: “professauros”, mistura de professor com
dinossauro.
De
qualquer modo há que se considerar que o propósito do governo tem
alto valor social, educacional e veio muito boa hora também para
elevar a autoestima do professorado neste início de ano letivo.
Feitas
estas considerações pode-se apresentar o objetivo principal deste
texto que é refletir sobre os impactos da mudança de época que se
está vivendo, também chamada de “metamorfose civilizatória
que tem um paralelo muito próximo na medida em que nenhuma atitude
humana impedirá o processo. Antes se trata de distinguir se o
processo de metamorfose aponta para a vida ou para a morte; em quais
proporções a espécie primitiva, que no mundo animal se reconhece
como – taturana = semelhante ao fogo – transformar-se-á numa
bruxa ou numa princesa”2.
Tal
processo altera os paradigmas tradicionais e por conta desta situação
nada e ninguém deixa de ser afetado. Nesta mudança de época parece
que nenhuma resposta cultural já apresentada é capaz de responder
aos desafios do presente.
Nem os
pais, nem a escola, nem o governo, nem ninguém é reconhecido com
poder e intensidade na proporção e alcance dos meios de comunicação
de massa os quais ditam comportamentos e projetos hegemônicos e
passageiros. Neste contexto corre-se o risco de enxergar de modo
equivocado a ação da comunicação apenas sob a ótica negativa e
perniciosa sem perceber que os jovens são também influenciados por
ela de modo positivo e criador de qualidade de vida.
A
revolução tecnológica incute nas sociedades e muito fortemente nas
novas gerações a sensação de superpoderes que faz com o que o
“mundo seja pequeno demais pra nós dois” o ambiente virtual e
habitual da hiper conexão cria o paradoxo da presença na ausência
o que pode ser chamado também de “presença comunitária sem vida
comunitária”3
O acesso
às redes sociais cria uma infinita rede de informações e de
compartilhamento que muitas vezes, como já se acenou, torna-se uma
nociva perda de perspectiva de futuro que compromete a ética e o
cultivo de valores, fazendo da juventude “uma geração pronta para
viver sem culpa”.4
As diferenças entre a geração Y e os jovens de décadas anteriores
aparecem muito presente nas formas de organização. Embalada pela
tecnologia e por estímulos consumistas infundidos pelos MCS,
especialmente pelos programas reality show, com relativa frequência
os nativos digitais pensam a partir da individualidade.
No que se
refere ao acesso à informação e comunicação os jovens
contemporâneos estão longe da passividade imposta com o advento da
imagem e do som, eles dominam as novas tecnologias, e a rede mundial
de computares, como o próprio nome afirma, minimizou a aldeia
global, as redes sem fio, os aparelhos tecnológicos descartáveis,
as redes sociais criaram interatividade jamais vista.
A maneira
como a juventude deste início de milênio se comporta tem seu
fundamento nesta teia de tecnologias em que eles são ouvidos sem ser
vistos, são vistos sem ser considerados e nenhuma classe social esta
isenta desta “necessidade de estar sempre conectado”5
por isso mesmo se disse que o “pacto pela educação” veio em boa
hora, uma vez que o acesso a intercomunicação se dará na forma
presencial tendo como espaço físico a sala de aula o que permitirá
que não obstante a hiper conectividade em que estão imersos seja
possível cultivar neles conexões pessoais e duradouras capazes de
resistir às crises.
Independente
da faixa etária o protagonismo da atual geração se realiza por
meio da tecnologia e a exclusão na atualidade não é mais
econômica, e cultural, embora isso não possa ser desconsiderado,
porém quem efetivamente está fora do processo são aqueles que
vivem alheios às linguagens midiáticas. A complexa rede interativa
que se estabelece por meio da rede mundial de computadores influencia
todas as estruturas da sociedade a começar pela família. Muitas
vezes as pessoas que moram na mesma casa vivem a experiência do
isolamento, da solidão, da solteirice e do individualismo, da
competitividade em detrimento do diálogo e da partilha.
A
detenção do conhecimento e dos saberes está longe de ser
reconhecida na pessoa dos pais, dos professores e dos outros
tradicionais conhecedores e estudiosos. Seja na família, seja na
escola é imprescindível criar relacionamentos e formas de direito
alternativo que viabilizem o uso adequado e sempre mais proveitoso
dos recursos disponíveis. A organização desta geração em redes
sociais faz com que seus participantes acreditem que o “planeta
lhes pertence” e por isso mesmo é importante acompanhar esta
conquista ajudando a perceber que “Nossa tarefa é cuidar do mundo
por inteiro. Ser capaz de viver o mais simplesmente possível de modo
a permitir a todos simplesmente viver” (Ernst Friedrich
Schumacher).
Os jovens
são uma geração aberta ao mundo e a solidariedade. Há poucos dias
a tragédia de Santa Maria mostrou ao mundo exemplos altruísticos
que perderam a vida com o intuito de salvar a outros. Estes e
diversos outros exemplos mostram o “coração solidário” desta
parcela da população. A internet pode se tornar o diferencial desta
geração com as precedentes. Enquanto as anteriores precisaram se
expor fisicamente correndo riscos e sendo vitimados pelas ditaduras
como ocorreu no Brasil na década de 1970 ou com o movimento “fora
Collor” nos anos noventa, ela pode se organizar a partir das redes
sociais.
Uma
pesquisa realizada pelo instituto Data Folha com jovens entre 18 e 24
anos confirmou que a juventude acredita em mudanças políticas a
partir das redes sociais, de fato tem se visto fenômenos como a
chamada primavera árabe confirmar esta realidade. Obviamente que as
instituições sociais e muito particularmente a escola precisa
facilitar não somente a inclusão digital, mas também seu acesso
seguro e saudável.
A recente
onda de ataques e de ameaça à segurança pública em Santa Catarina
fez a juventude local se tornar notícia mostrando sua faceta
negativa, violenta e descompromissada. Não sem razão o Governador
João Raimundo Colombo declarou no lançamento do pacto pela
educação: “Fazendo a educação presente e forte na vida das
pessoas é o melhor momento de conter o processo de crime organizado
e de desorganização da sociedade". Acrescentou: "Ela
está inteiramente dentro desse contexto, ela é o instrumento mais
forte de nós darmos força a princípios e valores. É através da
educação que a gente fortalece a consciência e o princípio de
organização social".
Simultâneo
ao crescimento dos grupos sociais midiáticos precisa crescer a
compreensão de que estas redes podem ser espaços de sadia
convivência e interconectividade cultural e educacional. Pesquisas
de mercado dão conta que 85% dos jovens em idade escolar utilizam o
celular e o reconhecem como dispositivo mais importante da vida.
Supera a casa de 80% os jovens que utilizam esporadicamente a
internet e pelo menos 50% tem acesso diário a este recurso. Ignorar
esta realidade como elemento decisivo para a construção da cultura
da paz, dos valores e da ética é uma falta grave que a escola pode
incorrer.
Não
utilizar adequadamente a rede mundial de computadores para fins
educacionais equivale a dizer que se está de acordo que está
maravilhosa invenção da técnica seja um “campo profícuo para
a difusão de ideologias que diminuem a vida”6
e a qualidade de vida. O governo junto com a proposta de
revitalização da carreira do magistério, que embora ainda não
seja satisfatória, e a disponibilização das novas tecnologias para
a educação e para os educadores mostra sua preocupação neste
quesito, cabe agora ao professorado e aos gestores fazer a parte que
lhes compete a fim de que o sonho de Paulo Freire se torne realidade
e que: “A educação proporcione a criação de um mundo onde
seja menos difícil de amar”.
2
ALBERTON, Elcio. Formação Mistagógica do Docente no Contexto da
Metamorfose Civilizatória. Dissertação de mestrado – PUCPR,
2012, p. 23.
3
CNBB. Texto Base CF 2013, p. 13.
4
LIBANIO, J.B. Para onde vai a juventude? São Paulo, paulinas, 2012,
p.34.
6
CNBB, Texto Base da Cf 2013, p. 42.
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