segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

AMIZADE E FILOSOFIA



A indústria da cultura patrocinada pelos meios de comunicação social, encarregou-se de transformar datas já consagradas no imaginário popular como em ocasiões para valorizar o ser humano, sua história e suas relações em oportunidades de negócio, de lucro e de consumo. Como se isso não fosse ainda suficiente para satisfazer a sua ânsia de ganhar, e desfrutar das boas e reais intenções de tantos que muitas vezes não conseguem fazer um juízo crítico daquilo que veem e ouvem, acabaram de criar o dia do homem. Por um lapso que causa estranheza, passou desapercibido ao leão do consumo o dia do amigo, esta é uma das poucas datas ainda não infectadas pelo comercio, não obstante ter sua origem muito anterior ao fenômeno que se denomina indústria da cultura.
É verdade também que a cultura brasileira ainda não incorporou este momento como uma oportunidade para valorizar a pessoa daquele que se escolhe como confidente e muitas vezes conselheiro.
Aproveitando o vinte de julho e as considerações feitas pelo autor citado, nas fontes de referência, este artigo tem por objetivo ajudar a perceber as dimensões que a virtude da amizade alcança no pensamento dos filósofos de todos os tempos. A brevidade que o texto exige impede uma abordagem de maior consistência, razão pela qual se fara apenas breves considerações sobre cada um dos tópicos.
Embora nem sempre compreendida e vivida como tal a amizade pode ser entendida como a forma mais alta do amor e a base de todos os amores. Assim se lê na Sagrada Escritura no livro dos Provérbios: "Um amigo fiel é uma grande proteção: quem o encontrou descobriu um tesouro", e o mesmo livro ainda diz: "tenha muitos amigos, mas apenas para um deles abra seu coração",  ou seja, que apenas um seja seu confidente, aquele a quem você pode chorar suas lágrimas e em cujos ombros pode depositar suas cruzes.
Praticamente não há um filosofo na historia que tenha se esquecido de falar sobre esta virtude de tamanha importância para a sobrevivência da espécie, como dirá mais tarde Martin Luther King: "Ou nos damos as mãos ou morremos todos como idiotas".
Para o filosofo Montagne construir laço de amizade com alguém implica compreender que a sociedade na qual seus cidadãos vivem como amigos é uma sociedade quase perfeita. Do ponto de vista das relações sociais a amizade torna possível alcançar os preceitos de igualdade e reciprocidade.
Pode-se servir da amizade como uma critica aos valores modernos, entre eles, como já se mencionou a "cultura mercadoria" patrocinada pelo desejo de consumo. Segundo a visão do filósofo Frederic Nietzshe a amizade é superior a todos os demais sentimentos, afirma ele: "a Antiguidade viveu a amizade até o máximo e com energia a encarou de forma exaustiva, e a levou quase consigo para a sepultura".
Foi Plutarco quem tratou da amizade sob um ponto de vista muito atual, isto é, encarar como a possibilidade de levar vantagem. Na obra "como tirar proveito de seus amigos e da maneira de distinguir o bajulador do amigo," Plutarco reconhece o valor da franqueza como remédio contra todas as ciladas e afirma que a sinceridade sem rodeios é a maneira para conquistar a verdade. 


REFERENCIA

OLIVEIRA, Jelson. Sabedoria Pratica, Curitiba, Champagnat, 2012, p. 59 - 95.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

PROFESSOR: UM TRABALHADOR DA CONTRADIÇÃO

COMENTÁRIOS E OBSERVAÇÕES AO TEXTO :
O PROFESSOR NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA:
UM TRABALHADOR DA CONTRADIÇÃO



Bernard Charlot
Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade,
Salvador, v. 17, n. 30, p. 17-31, jul./dez. 2008 17


No texto em questão o autor argumenta sobre a necessidade de definir a missão do professor e da escola em meio às contradições. Para isso ele começa desmistificando o que chamamos de contradições da escola e da profissão e ajudando a perceber que estas são contradições da sociedade como um todo e que por consequencia a escola não estaria imune delas, posto que aí esteja inserida.

Fica bastante clara na posição do autor que os “problemas” na escola não podem ser tratados apenas sob o ponto de vista do pedagógico. Esta afirmação fazemos questão de transcrevê-la textualmente: “As contradições relativas à escola são contradições sociais a respeito da escola e não contradições dentro da escola”.

E a partir desta convicção ele faz uma longa fundamentação sobre o papel social da escola e vice versa e conclui dizendo que esta interação contraditória é responsável pela desestabilização da função do docente.

No contexto da globalização aparece também no âmbito escolar e em alta escala a questão da eficácia, do resultado e da autonomia. Esta última é bastante mais ampla do que em outras épocas, mas por outro lado trouxe consigo a responsabilidade pelo sucesso ou pelo fracasso.

O mundo globalizado “quebrou as imagens” e também a do professor que agora já não é mais uma referência para os alunos que muitas vezes nem o incluem entre as fontes para obter informações sobre o mundo.

A sociedade de contradições torna o professor um indivíduo também contraditório. Por mais que ele sonhe com uma nova forma de se relacionar com os educandos continua repetindo práticas e conceitos já desacreditados e altamente questionados. Entre os exemplos pode ser citada a prática de atribuir nota como critério último para o processo avaliativo.

É verdade também que a missão de educar tem uma projeção simbólica e é sobre esta imagem que são projetadas todas as contradições sociais na maioria das vezes como se fossem restritas ao mundo da escola e da educação.

Ao longo da história não faltam ficções e até algumas situações reais de escolas ideais. Há as que são narradas a partir da realidade e delas temos livros, filmes portfólios e assim por diante. Há as que são produzidas a partir da ficção de autores e que tomo a liberdade de mencionar como a que vimos no filme “Sociedade dos poetas mortos” da década de 1990; ou Escritores da liberdade de 2007. Nesta última professor e aluno são considerados impossíveis e estabelecem um processo de transformação que se dá por meio da busca de algo que modifique suas vidas. Comentanto este filme Hannah Arendt, “aponta duas causas que podem ter relação profunda com a crise da educação em nossa época: a incapacidade de a escola levar os alunos para pensar e a perda da autoridade dos pais e professores”.

A partir destas narrativas parece ser possível ir além do que aponta Charlot, isto é, o professor não pode ser colocado nem na posição de vítima muito menos de herói. Retomo para isso as palavras de Hannah Arendt : “Uma educação que não exercita o ato de pensar, com todos os seus riscos, além da própria ausência de pensamento, tem como efeito o não comprometimento, o não tomar decisões, ou não se responsabilizar por elas. “A tarefa fundamental do pensar é descongelar as definições que vão sendo produzidas, inclusive pelo conhecimento e pela compreensão e que vão sendo cristalizados na história". A tarefa do pensar é abrir o que os conceitos sintetizam, é permitir que aquilo que ficou preso nos limites da sua própria definição seja liberado. É livrar o sentido e o significado dos acontecimentos e das coisas da camisa-de-força dos conceitos” (CRITELLI, 2006, p. 80).

A nosso ver a afirmação de Hannah Arendt supera o que chamamos de “caça as bruxas” ou de quem é a culpa. Aberta esta consciência será possível compreender que o professor é aquele que aceita a dinâmica da sociedade e a incorpora no seu mundo. Neste contexto “negocia, gere a contradição, não desiste de ensinar e, apesar de tudo, mas nem sempre, consegue formar os seus alunos”.

Com certeza essa compreensão haverá de superar as dicotomias entre o que se costuma chamar de tradicional ou construtivista. Superada essa contradição ficará muito mais fácil fugir ao simplismo da busca de culpados ou da taxação de responsabilidades. Neste novo conceito professores e alunos, ora de mãos dadas ora por caminhos distintos compreenderão que “ensinar é ao mesmo tempo mobilizar a atividade dos alunos para que construam saberes” muitos deles apenas reescritos a partir do legado das gerações.

As contradições da sociedade na qual a escola está inserida parece ser bastante reproduzida no interior da escola na medida em que todos os envolvidos no processo “interiorizam a notação como função central do ensino”.

Sob esta ótica não se pode fugir da realidade das escolas cuja missão é universalista, mas que trabalha com indivíduos na sua particularidade. Isto significa dizer que a função universal da escola não é precisamente ensinar, mas facilitar que os alunos aprendam. Por conta da universalidade da escola não se pode imaginar que esta seja uma instituição sem regras ou normas, mas acima de tudo há que se compreendê-la como lugar no qual é facilitado ao ser humano tornar-se membro de uma sociedade e de uma cultura na condição de sujeito singular e insubstituível.

Com certeza sob esta ótica será possível fugir do que chamamos de dicotomia simplista, isso é, de quem é a culpa, ou qual a imagem do professor. Parece certo que se trata de um trabalhador da contradição. Ele vive entre a função de facilitar ao aprendente ir ao encontro da universalidade que permita compreender a vida e garantir a aprovação nas barreiras imediatas que a sociedade impõe como limites de crescimento.

Com toda a carga ideológica que a sentença pode ter, gosto muito do texto:

“Professor(a)!
Trago-te um recado de muitas pessoas.
Houve gente que praticou uma boa ação e manda-te dizer
que foi porque teu exemplo convenceu.
Houve alguém que venceu na vida e manda-te dizer
que foi porque tuas lições permaneceram.
E houve mais alguém que superou a dor e manda-te dizer
que foi a lembrança da tua coragem que o ajudou.
Por isso que és importante. O teu trabalho é o mais nobre.
De ti nasce a razão e progresso, a união e harmonia de um povo.
E agora... Sorri!!!
Esquece o cansaço e a preocupação porque há muita gente
pedindo a Deus para que sejas muito feliz.” (Autor desconhecido).