A fofoca é inevitável, mas prefira o diálogo franco
Mauricio Goldstein, Consultor e autor do livro
JOGOS POLÍTICOS NAS EMPRESAS (redacao.vocesa@abril.com.br) 10/11/2010
Quando penso em fofoca, a primeira coisa que me vem à mente é explorar sobre o que exatamente estamos falando. Alguns definem fofoca como uma troca de informação entre duas pessoas sobre uma terceira, sem o seu conhecimento, o que pode ser positivo ou negativo. Contudo, outras definições são um pouco mais ácidas. Há uma fonte que diz que a fofoca consiste no ato de fazer afirmações não baseadas em fatos concretos, especulando em relação à vida alheia. Segundo esse grupo, ela é quase sempre um dito maldoso, ou a divulgação de detalhe que o outro gostaria que fosse ignorado. Uma coisa é possível afirmar: a fofoca é sempre uma declaração com um juízo de valor, ou seja, uma interpretação de quem a está dizendo.
Por exemplo, numa companhia que estava passando por uma fusão, ouvi a conversa entre dois colaboradores: — Claudio, estão dizendo que o presidente da Brand será o nosso novo executivo-chefe e que o Jorge vai rodar. — Beto, não sabia disto. Onde você ouviu a informação? — Apareceu ontem nos jornais. E mais, ouvi dizer que o pessoal da Brand costuma apenas escolher pessoas de seu time. Acho que não temos chance... — E o escritório, você já sabe onde vai ser? — Não ouvi oficialmente, mas estão dizendo que eles vão fechar o nosso escritório no Morumbi e iremos todos para a Faria Lima. Para mim, vai ser uma droga pra chegar lá. Se é que eu vou estar na empresa...
Por que as pessoas fofocam no escritório? A fofoca dá alguma vantagem a quem a emite: maior influência ("eu tenho mais informações do que você"), uma redução da ansiedade ("quando falo a respeito de alguns fantasmas, sinto-me melhor"), uma cumplicidade com o interlocutor ("vale a pena ser meu amigo, pois eu posso dividir o que sei com você"), um prazer íntimo ("sinto-me bem quando conto as novidades a meus colegas"), ou alguma vantagem concreta planejada, como uma promoção, a alocação de verba para algum projeto, afetar a reputação de um "inimigo".
Nesse aspecto, a fofoca é um jogo político na organização que traz vantagem para quem a faz, mas não necessariamente para o todo. Ao mesmo tempo, sabemos que a fofoca nunca vai ser eliminada das organizações. Assim concordo com a afirmação do professor Labianca de que ela tem uma função de ajudar as informações a fluírem. Quando não existem bons canais oficiais de comunicação, as trocas vão ocorrer nos canais informais, ou seja, na conversinha do café. Quando não há clareza e transparência, a ansiedade aumenta e o ambiente fica mais propício ao disse-me-disse.
Poderíamos dizer que a fofoca é como o sangue, que encontra novos caminhos para continuar fluindo quando as veias (ou os canais formais) estão entupidas. A fofoca traz vida e evita o colapso da organização. Ela serve também como um bom instrumento diagnóstico: quando a fofoca aumenta, é sinal de que a comunicação não está indo bem e que vale a pena investigar o que está acontecendo nas entranhas da organização. Ainda, ela geralmente atua de forma a reforçar a cultura atual (como a maioria dos jogos políticos) e assim pode dificultar mudanças.
Proibir a fofoca é absolutamente inútil. É como tentar fechar a saída de um líquido sob contínua pressão: a chance de que haja alguma explosão no sistema é grande. Ou seja, considerando que sempre haverá fofoca nas empresas, é importante observar o seu movimento e compreender a sua origem. Porém, não acredito que devamos incentivar a fofoca como forma de ação e comunicação. É muito mais interessante convidar a organização para o diálogo e deixá-la saber e participar das redes informais que vão se criando, para esclarecer boatos e dúvidas, engajar os colaboradores e coordenar todas as ações na mesma direção.
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