sábado, 27 de setembro de 2014

QUEM É QUEM NA ESCOLA



O módulo começa com a intenção de ajudar o cursista a construir uma noção de juventude. Segundo o texto a noção de juventude que se tem na escola tem a ver com o relacionamento entre professores e alunos e a noção de identidade que ambos constroem dos seus pares. E por isso o texto quer ajudar a compreender o significado de ser jovem nos dias de hoje.

O primeiro dado a ser considerado aponta que é necessário considerar a escola como um ambiente que é reflexo da sociedade onde estão inseridos os atores da educação (professores e alunos).

As DCNEM, e o parecer do Conselho Nacional da Educação são objetivos ao afirmar que a  escola precisa ser reinventada e sua função consiste “no aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”, e, “o reconhecimento e aceitação da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo, das formas de produção, dos processos de trabalho e das culturas a eles subjacentes” (artigo III e VII).

Um dos conceitos fundamentais a ser considerado na educação é a compreensão de que não existe um jovem, mas juventudes. E estas juventudes frequentemente não são ouvidas na escola na hora de tomar decisões.

Dentre outros, um dos erros, em relação à juventude consiste em considerar a juventude como uma fase de pre-adultez, destituindo-o da sua identidade, e por isso mesmo considerada não suficientemente responsável e sujeita à violência e outras condições degradantes. Deste modo parece fácil enxergá-lo como problema e reduzir a complexidade desta etapa da vida. Concluindo, a escola não pode considerar o jovem como um problema para a sociedade e projetar, desta forma, estereótipos negativos dos alunos nas escolas.
A sociedade está repleta de sinais do inconformismo dos jovens e do seu potencial articulador. Tenha-se como exemplo as manifestações de rua desde 2012 e muitos outros fatos no cotidiano da escola.

Como construção histórica e categoria socialmente produzida a juventude é, ao mesmo tempo, uma construção social e um tipo de representação. Daí a importância de reconhecer a juventude como uma categoria totalizante e não como uma preparação para a vida adulta.

Dito isto fica fácil compreender como a escola ainda esta longe de compreender a noção de juventudes e efetivamente garantir que o ensino médio cumpra a função prevista  na LDB:
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;

II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;

IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.

A atividade para esta primeira parte do módulo desafia os sujeitos da escola a virar esse jogo. Neste sentido é importante reconhecer o que dizem os jovens de si mesmos e dos seus professores, desde a condição sócio econômica em que estão inseridos.

Procurando detectar algumas linhas do pensamento dos jovens estudantes foi realizada uma pesquisa que envolveu 22% dos alunos da Escola de Educação Básica Professora Adelina Régis em Videira – SC.

Os alunos foram informados que se tratava de sondagem para o curso de professores participantes do SISMEDIO, realizada em sala de aula, foi pedido o anonimato dos participantes.

O professor que aplicou a pesquisa manteve a neutralidade sobre qualquer posicionamento dos alunos, bem como garantiu a  liberdade de expressão e tranquilidade necessária para as respostas.

Feita a tabulação dos dados chega-se as seguintes premissas que permitem algumas considerações conclusivas, apresentadas depois de cada gráfico tendo por referência teórico o módulo II do Curso de Formação de Professores  oferecido pelo Pacto Nacional de Fortalecimento do Ensino Médio.

Veja o que pensam nossos alunos sobre si mesmos:
1    1)   Você está na escola por que:
a)           Quer se tornar um sujeito crítico
b)           Apenas para terminar o ensino médio
c)           Para aprender um pouco mais
d)           Para fazer o ENEM
e)           Para ser alguém na vida


Note-se que neste quesito os alunos concordam com o princípio da LDB que prevê: “III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”.

     2)   O que pensam dos seus professores:
Você acha que seus professores estão na escola por que:
a)           Não tem outra profissão
b)           Escolheram por vocação
c)           Apenas para o salário
d)           Para não ficar em casa cuidando do marido/mulher e dos filhos
e)           Porque querem um mundo melhor

Por sua vez os alunos também tecem uma imagem positiva dos seus professores, qualificando-os como idealistas e vocacionados.

Situação econômica dos alunos:

1  3)   Você se considera jovem em qual condição social:
a)           Pobre (Vive com menos de dois Reais por dia);
b)           Esnobe (Vive com dois e cinco Reais por  dia, mas tem consumo superior);
c)           Suficiente (Vive com seis até 10 Reais por dia)
d)           Abusado (Vive com mais de 10 Reais por dia) 

Enquadram-se como alunos que tem padrão de vida adequado para sua idade, sendo que menos de 30% deles se atribui uma condição que se poderia qualificar como depreciativa para a sua idade.


Nas questões a seguir os alunos foram convidados a se atribuir uma nota  com variável de três pontos para cada uma das condições.

Do ponto de vista da pessoa e das relações, você se considera:
































Diante destes apontamentos, quais as sugestões que a escola pode implementar para “virar o jogo” de culpados que frequentemente se estabelece na escola? E como compreender as expectativas dos nossos alunos em relação à escola e aos professores.
Esta pergunta norteou todo o conteúdo estudado na primeira parte do segundo módulo. Para compreender melhor e apontar algumas alternativas talvez mereça ser relido o texto nas páginas 6 a 10 da módulo 1. Particularmente no que se refere ao quesito ouvir os alunos. 

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

PARTICIPAR, OPINAR, VOTAR, É TUDO A MESMA COISA...


A redemocratização do País cujo processo teve início na primeira década dos anos 1980 trouxe à tona os discursos relativos ao conceito de participação. Assim naquele período os brasileiros foram às ruas pedindo eleições diretas para presidente, logo depois foi a Assembleia Nacional Constituinte com os inúmeros abaixo assinados de iniciativa popular que foi conduzida na elaboração da constituição de 1988. Em 1992 o País foi às ruas  com o movimento “caras pintadas”. Com o advento de  governos democráticos e uma certa tranquilidade econômica e social o “gigante adormeceu” e deste “sono” só acordou em meados de 2012 com o denominado movimento “passe livre” que ganhou outros inúmeros contornos em todos os rincões do país.

O conceito de participação que foi desenvolvido em todas as esferas veio também para o contexto da educação cujas instituições são constantemente convidadas a se resinificar. Na prática o conceito de participação ainda está longe de se tornar realidade no cotidiano da escola quando se trata realmente de construção de processos decisórios.
Esta situação está ainda aquém do que se desejaria quando se vê escolas onde o Projeto Político Pedagógico não é construído com a participação da comunidade escolar e vai sendo apenas “remendado” ao longo dos anos  sem considerar os novos contextos em que a escola está inserida.
A formação de instâncias deliberativas e entidades de representação de classe estão longe de serem democráticas e criadora de espaços de responsabilidade coletiva.
O Estado de Santa Catarina, só em 2014 estabeleceu um processo de construção da gestão democrática por um meio de um decreto que implanta a eleição para a escolha de diretores das unidades escolares. Todavia esse processo está longe de ser participativo por conta dos “gargalos” antidemocráticos nas diversas instâncias do governo e mesmo na mentalidade pouca democrática dos envolvidos no processo.
Os planos de gestão exigidos pelo decreto a serem elaborados pelos candidatos a diretor de escola e mesmo pelos diretores em exercícios são repletos de vícios e mecanismos antidemocráticos. A título de curiosidade cabe citar a proposta de uma escola catarinense para a  eleição do grêmio estudantil: “Articular com a equipe de Assistentes Técnicos Pedagógicos a eleição do Grêmio Estudantil”, note-se que os alunos como sujeitos se quer aparecem mencionados no processo de articulação para a constituição da sua instância participativa.

Em todo o contexto escolar o conceito de participação está longe de integrar a comunidade fazendo-se sujeito do cotidiano escolar, deste modo é pertinente a conclusão do parágrafo relativo à participação no módulo II:

Diante desta realidade, torna-se necessário aprofundar a reflexão para não cairmos na resposta fácil e no beco sem saída do jogo de culpados sobre o qual nos referimos ao iniciarmos  este texto. Responsabilizar o jovem estudante pelo desinteresse manifesto, ou a sua família, ou mesmo a sua pobreza, costuma produzir análises superficiais de pouca serventia para enfrentar o fenômeno da crise de realização da escola. Da mesma forma, pouco adianta pensar que somente o professor é capaz de dar conta de um processo sistêmico em que a própria instituição escolar se vê desprestigiada na vida social” (p.54).


BUSCAS E SONHOS DE ADOLESCENTES



Dentre os desafios que se apresentam à comunidade escolar bem como aos entes mantenedores dos cursos de ensino médio, um deles reside na permanência do jovem da escola. De acordo com meu ponto de vista pouco ainda é feito no sentido de envolver os pais nesta discussão ajudando-os a perceber que o nível de desenvolvimento de qualquer sociedade passa necessariamente e antes pelo maior tempo de permanência na escola. Países desenvolvidos com altos índices de qualidade na educação já entenderam essa dinâmica.

No Brasil, porém, as famílias ainda não perceberam esse “calcanhar de Aquiles” o índice de evasão nos três anos do ensino médio é muito alto. O Estado de Santa Catarina tem investido recursos humanos, técnicos e matérias na implantação do ensino médio em tempo integral. Mas não fez uma ponte entre o trabalho na adolescência a permanência na escola. Os índices de jovens que trocam o tempo integral pelo turno noturno ou mudam para escola com período de 4 horas aproxima-se dos 75%. Esta fuga em massa aparece justificada pela necessidade de trabalhar.

A ação sugerida na página 43 do módulo dois nunca foi desenvolvida na escola de modo sério e mediado por estudos técnicos e psicológicos que margeiam esta questão. Pelo menos 50% dos alunos que frequentam o noturno da Escola de Educação Básica Professora Adelina Régis, não em carteira de trabalho de assinado, nenhum tipo de seguridade social, pouco ou nada sabe sobre segurança no trabalho. Nenhum destes temas foi explorado ou aberto diálogo com eles por parte do corpo docente da escola, nem tampouco com seus pais e a própria sociedade.

Facilmente a escola cai no discurso político partidário do “pleno emprego” da “falta de qualificação” e da elevada “carga tributária” que recai sobre o empregador. Todas explicações verdadeiras, porém que não justificam o silenciamento diante da “cratera” aberta na qualidade da educação marcada por este índice de rotatividade e abandono da educação em tempo integral.