segunda-feira, 30 de novembro de 2015

BOM DIA SR. MANDELA...

RESENHA
Elcio Alberton[1]

LA GRANGE, Zelda. Bom dia Senhor Mandela. Tradução Felipe José Lindos. 1ª edição Ribeirão Preto, SP: Novo Conceito Editora, 2015. 416 páginas.

O livro organizado em quatro partes com treze capítulos é uma mescla de autobiografia da autora e da biografia do líder sul africano Nelson Mandela.  Escrito em 2014 originalmente em Inglês e publicado em português em 2015 pela Editora Novo Conceito. Edição bem apresentada, a capa e a contra capa são muito convidativas para a leitura. Na contra copa se lê um pensamento do Arcebispo Desmond Tutu, que enaltece o papel de Mandela como reconciliador da África do Sul.
Para compreender a obra é necessário conhecer um pouco da história do Apartheid que reinou na África do Sul entre 1944 e 1990. Nelson Mandela passou 27 anos na prisão tendo sido libertado em 1990 ganhou o prêmio Nobel da paz em 1993 e foi eleito presidente da África do Sul em 1994 a qual governou até 1999, é conhecido como Pai da moderna nação africana.
Zeldina, como faz questão de se reconhecer a secretária particular de Mandela e autora da obra, se apresenta como filha de uma família conservadora de classe média, branca, cristã fiel da Igreja Católica Anglicana e cidadã convicta que o regime do apartheid era o que havia de melhor para a nação africana.
Profissionalmente, era funcionária estatal do governo segracionista instalado na África e patrocinado pela Inglaterra desde 1948. Ela mesma se declara uma “Africâner” incapaz de conviver noutro sistema de governo. Sua função no estado era datilógrafa.
Para sua surpresa em 1994, quando Nelson Mandela assume o governo do país, ao contrário do que todos esperavam, Madiba (como era chamado) não fez nenhuma varredura ou distinção entre brancos e negros nos serviços estatais daquele país.
Zelda começa fazendo sua própria autobiografia, descreve o fim do apartheid e termina o capítulo 14 com uma expressão sem tradução para o português “tot weersiens, Khulu” no qual narra os últimos momentos da vida de Nelson Mandela.
Por sua condição de africâner jamais passaria por sua cabeça que um homem negro pudesse mudar suas convicções sociais, políticas e religiosas as quais cultivou até aquela etapa da vida.
No processo de formação do governo ex-apartheid, Zelda se candidatou para a vaga de datilógrafa no departamento administrativo, quando foi surpreendida por ninguém menos que a chefe de gabinete de Nelson Mandela recrutando uma pessoa com as suas habilidades para o gabinete do Presidente de quem depois se tornou secretária particular, confidente e leal servidora pelo resto da vida daquele que no final da vida foi premiado com o filme intitulado “Mandela - O caminho para a liberdade”.
A narração da sua “conversão” para uma nova África passa por compreender algumas realidades que antes não se dava conta entre elas o acesso à educação e a valorização dos profissionais da educação. Na página 110 ela descreve: “Lamentavelmente, o sistema educacional da África do Sul, mais especialmente nas áreas rurais, tende a falhar. Até hoje, esse é um dos maiores desafios que a África do Sul enfrenta: a Educação. O magistério é uma das profissões mais mal remuneradas, e, como resultado, deixou de atrair pessoas com paixão pelo trabalho...”
Uma das virtudes que ela reconhece em Mandela é a capacidade de não condenar as pessoas por aquilo que aconteceu ou permitiram que acontecesse, ele mesmo foi uma pessoa capaz de sempre assumir seus erros, e aplicava para si e para os demais a expressão: “Um santo é o pecador que nunca desisti” (p. 110).
Na mesma direção ela cita o episódio em que Nelson Mandela foi literalmente encurralado pela imprensa durante sua visita ao museu do Holocausto e forçado a opinar sobre o fato, sem hesitar Mandela afirma: “Foi uma tragédia o que aconteceu com a nação judaica, mas jamais se deve perder de vista o fato de que essa carga também é compartilhada pelo povo alemão. A atual geração de alemães sofre para ser livrar do estigma que teve de carregar como resultado desses eventos, pelos quais eles mesmos não podem ser considerados responsáveis neste momento” (p. 170).
Na mesma direção Zelda lembra o encontro do Ex-presidente com o primeiro ministro britânico sobre quem não se constrange em dizer que o povo sul africano derrotou o seu poderio, mas que esses fatos já não são mais relevantes nesta etapa da história.
Durante todo o livro a autora narra com detalhes as artimanhas e as segundas intenções apresentadas por muitos que se aproximam de grandes líderes da história, ao mesmo tempo em que ela aponta como Mandela foi sempre capaz de reconhecer todas essas situações sem deixar-se abater nem muitos menos compactuar com elas.
Aparece com clareza em toda a trajetória do líder negro e na sua relação com a autora que os grandes erros servem aprender arcar com as consequências sendo capaz de perdoar aqueles que estão envolvidos, porque estava convencida, como já havia escrito Mandela ainda na prisão: “Não fuja de seus problemas; enfrente-os! Porque, se não lidar com eles, sempre estarão com você” (p. 206).
Estes ensinamentos Zelda afirma ter carregado por toda a vida, o livro é uma intrigante viagem pela Moderna África do sul que embora tenha vencido o regime do Apartheid ainda espera que o legado de Khulu, ainda se concretize no sonho de uma nação mais justa e igualitária para todos.
É uma obra de valor inestimável para quem pretende conhecer in loco o que é descrito e para quem apenas quer conhecer melhor o poder de uma pessoa que sabe perdoar e começar na certeza de que é importante ter a certeza de que o que quer que se faça seja feito com a consciência de sempre ter feito o melhor.




[1] Aluno especial na disciplina Bibliotecas: Espaços Históricos de Sociabilidade, no programa de Pós- graduação em Educação 2015/2 UDESC nível doutorado.

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