RESENHA
Elcio Alberton[1]
LA
GRANGE, Zelda. Bom dia Senhor Mandela. Tradução Felipe José Lindos. 1ª edição
Ribeirão Preto, SP: Novo Conceito Editora, 2015. 416 páginas.
O
livro organizado em quatro partes com treze capítulos é uma mescla de
autobiografia da autora e da biografia do líder sul africano Nelson
Mandela. Escrito em 2014 originalmente
em Inglês e publicado em português em 2015 pela Editora Novo Conceito. Edição bem
apresentada, a capa e a contra capa são muito convidativas para a leitura. Na contra
copa se lê um pensamento do Arcebispo Desmond Tutu, que enaltece o papel de
Mandela como reconciliador da África do Sul.
Para
compreender a obra é necessário conhecer um pouco da história do Apartheid que
reinou na África do Sul entre 1944 e 1990. Nelson Mandela passou 27 anos na
prisão tendo sido libertado em 1990 ganhou o prêmio Nobel da paz em 1993 e foi
eleito presidente da África do Sul em 1994 a qual governou até 1999, é
conhecido como Pai da moderna nação africana.
Zeldina,
como faz questão de se reconhecer a secretária particular de Mandela e autora
da obra, se apresenta como filha de uma família conservadora de classe média,
branca, cristã fiel da Igreja Católica Anglicana e cidadã convicta que o regime
do apartheid era o que havia de melhor para a nação africana.
Profissionalmente,
era funcionária estatal do governo segracionista instalado na África e
patrocinado pela Inglaterra desde 1948. Ela mesma se declara uma “Africâner” incapaz de conviver noutro
sistema de governo. Sua função no estado era datilógrafa.
Para
sua surpresa em 1994, quando Nelson Mandela assume o governo do país, ao
contrário do que todos esperavam, Madiba
(como era chamado) não fez nenhuma varredura ou distinção entre brancos e
negros nos serviços estatais daquele país.
Zelda
começa fazendo sua própria autobiografia, descreve o fim do apartheid e termina o capítulo 14 com uma expressão sem tradução
para o português “tot weersiens, Khulu”
no qual narra os últimos momentos da vida de Nelson Mandela.
Por
sua condição de africâner jamais
passaria por sua cabeça que um homem negro pudesse mudar suas convicções
sociais, políticas e religiosas as quais cultivou até aquela etapa da vida.
No
processo de formação do governo ex-apartheid,
Zelda se candidatou para a vaga de datilógrafa no departamento administrativo,
quando foi surpreendida por ninguém menos que a chefe de gabinete de Nelson
Mandela recrutando uma pessoa com as suas habilidades para o gabinete do
Presidente de quem depois se tornou secretária particular, confidente e leal
servidora pelo resto da vida daquele que no final da vida foi premiado com o
filme intitulado “Mandela - O caminho
para a liberdade”.
A
narração da sua “conversão” para uma nova África passa por compreender algumas
realidades que antes não se dava conta entre elas o acesso à educação e a
valorização dos profissionais da educação. Na página 110 ela descreve: “Lamentavelmente, o sistema educacional da
África do Sul, mais especialmente nas áreas rurais, tende a falhar. Até hoje,
esse é um dos maiores desafios que a África do Sul enfrenta: a Educação. O
magistério é uma das profissões mais mal remuneradas, e, como resultado, deixou
de atrair pessoas com paixão pelo trabalho...”
Uma
das virtudes que ela reconhece em Mandela é a capacidade de não condenar as
pessoas por aquilo que aconteceu ou permitiram que acontecesse, ele mesmo foi
uma pessoa capaz de sempre assumir seus erros, e aplicava para si e para os
demais a expressão: “Um santo é o pecador
que nunca desisti” (p. 110).
Na
mesma direção ela cita o episódio em que Nelson Mandela foi literalmente
encurralado pela imprensa durante sua visita ao museu do Holocausto e forçado a
opinar sobre o fato, sem hesitar Mandela afirma: “Foi uma tragédia o que aconteceu com a nação judaica, mas jamais se
deve perder de vista o fato de que essa carga também é compartilhada pelo povo
alemão. A atual geração de alemães sofre para ser livrar do estigma que teve de
carregar como resultado desses eventos, pelos quais eles mesmos não podem ser
considerados responsáveis neste momento” (p. 170).
Na
mesma direção Zelda lembra o encontro do Ex-presidente com o primeiro ministro
britânico sobre quem não se constrange em dizer que o povo sul africano
derrotou o seu poderio, mas que esses fatos já não são mais relevantes nesta
etapa da história.
Durante
todo o livro a autora narra com detalhes as artimanhas e as segundas intenções
apresentadas por muitos que se aproximam de grandes líderes da história, ao
mesmo tempo em que ela aponta como Mandela foi sempre capaz de reconhecer todas
essas situações sem deixar-se abater nem muitos menos compactuar com elas.
Aparece
com clareza em toda a trajetória do líder negro e na sua relação com a autora
que os grandes erros servem aprender arcar com as consequências sendo capaz de
perdoar aqueles que estão envolvidos, porque estava convencida, como já havia
escrito Mandela ainda na prisão: “Não
fuja de seus problemas; enfrente-os! Porque, se não lidar com eles, sempre
estarão com você” (p. 206).
Estes
ensinamentos Zelda afirma ter carregado por toda a vida, o livro é uma
intrigante viagem pela Moderna África do sul que embora tenha vencido o regime
do Apartheid ainda espera que o legado de Khulu,
ainda se concretize no sonho de uma nação mais justa e igualitária para todos.
É
uma obra de valor inestimável para quem pretende conhecer in loco o que é descrito e para quem apenas quer conhecer melhor o
poder de uma pessoa que sabe perdoar e começar na certeza de que é importante
ter a certeza de que o que quer que se faça seja feito com a consciência de
sempre ter feito o melhor.
[1]
Aluno especial na disciplina Bibliotecas: Espaços Históricos de Sociabilidade,
no programa de Pós- graduação em Educação 2015/2 UDESC nível doutorado.
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