RESENHA
ELCIO ALBERTON[1]
EGGERTT-STEINDEL,
Gisela. Dos espaços de leitura à Biblioteca Municipal de Jaraguá do Sul:
Discursos e percursos (1937 – 1983), Florianópolis: Insular, 2009.
A
Obra é a tese de doutorado em Educação, defendido pela autora na USP no ano de
2005. Depois de fazer os agradecimentos a obra é apresentada pela também
doutora Maria Tereza Santos Cunha professora do Departamento de História da
FAED/UDESC no ano de 2009. Com 138 páginas organizadas em quatro capítulos, a
obra apresenta ainda 12 páginas de bibliografia distribuídas em fontes
documentais, fontes impressas e fontes gravadas, 4 páginas com anexos e 17
páginas contendo 336 notas numeradas em ordem crescente do primeiro ao último
capítulo. Publicado pela Editora Insular
com sede em Florianópolis e presente no mercado editorial desde 1994.
Graficamente
bem apresentável trás na imagem da capa a foto da antiga Estação Ferroviária de
Jaraguá do Sul, espaço que também foi sede da Biblioteca Pública Municipal
de Jaraguá do Sul.
Todo
o texto, independente do seu rigor científico, é de leitura muito agradável. A
autora que tem outros trabalhos publicados na mesma conotação literária se
apresenta com habilidade na arte de comunicar suas convicções de forma simples,
arrojada e bem fundamentada bibliograficamente. O fato das notas de rodapé
estarem todas numa única sessão ao final da obra torna o texto ainda mais leve,
por outro lado esta norma técnica dificulta um pouco a consulta a este recurso
durante o percurso de apropriação da obra.
Para
o conjunto do trabalho pode ser aplicar a frase de José Saramago: “Antes do interesse pela escrita há um outro: o interesse pela
leitura. E mal vão as coisas quando só se pensa no primeiro, se antes não se
consolidou o gosto de pelo segundo. Sem ler ninguém escreve”. Sobre esta
obra, pode-se afirmar que a autora “devorou” arquivos e espaços de leitura para
depois consolidar seu pensamento e firmar suas posições acerca do assunto.
No
capítulo primeiro a autora contextualiza o nascimento das povoações no vale do
Itajaí com a emancipação político administrativa de Jaraguá do Sul e os
desdobramentos anteriores e posteriores que este fato tem para a história de
Santa Catarina e para o Brasil.
No
segundo capítulo, intitulado “Possibilidades de leitura, uma cartografia” é
interessante destacar algumas ideias presentes ao longo do texto e que, mesmo
tomadas isoladamente permitem perceber do que se trata o conjunto da obra. Na
página 45 a autora fala pela primeira vez da existência de Bibliotecas na
cidade para em seguida alcunhar a expressão “biblioteca sem paredes” expressão
que já intitulava outro artigo da autora quando doutoranda na USP.
A
biblioteca sem paredes parece ser a gênesis das outras bibliotecas que mais
tarde foram erigidas pela comunidade jaraguaense. Embora o jornal ao qual se
atribui o título de “biblioteca sem paredes”, não publicasse obras na íntegra,
nem mesmo resumo de obras significativas, o periódico cumpria seu papel
divulgando a produção editorial nacional para a comunidade local. Os outros
três tópicos descritos no capítulo 2 tratam da Biblioteca Integralista, da
Biblioteca Jurídica e da Biblioteca do Clube Baependi ambas erigidas na cidade,
nas décadas de 1930 e 1940, às quais deram origem à Biblioteca Municipal Emílio
Carlos Jordan, esta criada no ano de 1947. Sobre esta biblioteca a autora dedica
todo o capítulo terceiro da obra.
E
finalmente no capítulo 4 a autora descreve nos anos 1970 a criação da
Biblioteca Pública Municipal Rui Barbosa, a qual existe até hoje na cidade de
Jaraguá do Sul.
Para
usar uma expressão da autora o “fio de Ariadne” desta obra parece ser o mesmo
que está amarrado à porta do labirinto da formação de muitas bibliotecas
espalhadas pelos municípios brasileiros em decorrência da legislação oriunda
com a criação do Instituto Nacional do Livro.
Em
todos os lugares antes da criação das bibliotecas existiam grupos de leitores,
mais ou menos anônimos que intercambiavam seu interesse pela leitura, destes
espaços para a criação da biblioteca dependeu, muitas vezes, a afinidade
político partidária destes grupos com o partido que detinha o “mando político”
na cidade ou região.
Disto
decorre que boa parte das bibliotecas foram, por longos anos, como esta mesma
de Jaraguá, joguete de interesses dos mandatários locais. Não obstante esta
triste realidade e emprestando de outro autor a metáfora da Via Láctea a autora
faz perceber que a biblioteca é mais uma estrela na constelação dos espaços de
leitura disponíveis, embora nem sempre percebida e reconhecida em toda a
dimensão do seu brilho para a totalidade do sistema.
Dentre
as muitas funções da biblioteca na página 119 a autora cita uma frase da obra:
Os livros são para ler, que descrevia o papel da pessoa responsável pela
biblioteca com as seguintes palavras: “O
encarregado deverá ter em mente o lema os livros existem para serem usados e
que o importante é colocar em mão dos leitores os materiais de leitura de que
precisam da forma mais rápida...”
Em
síntese a expressão “Passadas cerca de
três décadas, somam-se rupturas, instabilidades de ordem simbólica e material
em prejuízo da instituição pública de leitura” (p. 136), pode ser aplicada
a muitas outras iniciativas para a criação de bibliotecas nos municípios
catarinenses fato também relatado por vários alunos da disciplina Bibliotecas:
Espaços Históricos de Sociabilidade, 2015/2 UDESC – Florianópolis, na atividade denominada “Uma versão do empírico”.
Roubando
mais uma expressão da autora, “dito de outro modo” boa parte das bibliotecas
catarinenses continuam deixando de cumprir a função para a qual foram criadas e
que previa o manual de treinamento dos encarregados de bibliotecas publicado em
1997.
No
que se refere reconhecer as bibliotecas como espaços de sociabilidade parece
curioso observar que nos roteiros turísticos de Santa Catarina, é verdade que
são abundantes, raramente se encontrará um que cite uma biblioteca como espaço
a ser visitado.
Neste sentido esta obra é uma leitura
obrigatória para todos quantos amam o livro e a leitura e desejam conhecer melhor o processo como este “amigo” faz
parte da vida e da sociedade catarinense.
[1]
Aluno especial na disciplina Bibliotecas: Espaços Históricos de Sociabilidade,
no programa de Pós- graduação em Educação 2015/2 UDESC nível doutorado.
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