sábado, 2 de agosto de 2014

A PROPÓSITO DA ATUALIZAÇÃO DA PROPOSTA CURRICULAR DE SANTA CATARINA

FILOSOFIA EM SALA DE AULA

Se fosse possível afirmar que o ensino da filosofia no ensino médio tem um norte, poderia se organizar de modo didático dizendo que a função dela em sala de aula consiste em:
a)                  Criar mediações pedagógicas facilitadoras do processo de aprendizagem;
b)                 Promover a capacidade de o aluno pensar por si próprio;
Enquanto o aluno não for capaz de pensar por si próprio (copia, repete, exercita) ele age de acordo com a afirmação Kantiana: “Vive na menoridade intelectual”. Isso significa dizer: o aluno sabe regras, normas e fórmulas, mas quando precisa delas no seu cotidiano é incapaz de servir-se para a construção da sua autonomia.
Neste sentido na disciplina de filosofia o aluno merece ter contato com alguns textos filosóficos,  que resumem o pensamento de determinado autor e entender as indagações e os argumentos que fundamentam a opinião do autor. Neste ponto é importante que o estudante seja capaz de problematizar, argumentar, conceituar tendo a seu alcance conteúdos da história da filosofia.
Por sua parte o professor  tem, pelo menos, dois caminhos a seguir:  Fazer uma aula a partir das deficiências e limites do aluno ou investir numa real democratização do saber. Essa segunda implica estar convencido que todos tem oportunidade de dominar conhecimentos com qualidade e desenvolver inteligência crítica e criadora.
O ensino da filosofia na escola tem como tarefa fundamental permitir que esteja ao alcance de todos mediações intelectuais de uma disciplina cuja essência é a abstração.  Ensinar e aprender filosofia implica produzir saberes mais do que simplesmente transmitir o que já se sabe, porém, um não exclui o outro.
Uma das primeiras dificuldades vivenciadas pelo professor de filosofia consiste na certeza de que a o estudo desta disciplina não é uma escolha do estudante de ensino médio, o qual nesta etapa da vida está mais preocupado com sua formação técnica e profissional ou na melhor das hipóteses alcançar as cadeiras de uma universidade.  No contexto em que vivem os estudantes do nível médio, a filosofia esta longe de qualquer necessidade espiritual alimentada por eles.
A tarefa do professor de filosofia, segundo Rui Gárcio Souza Dias  consiste em “navegar contra a corrente das necessidades culturais dos alunos. Quase nada no cotidiano dos jovens pede juízo filosófico. Neste caso ensinar filosofia  significa dar ao jovem algo que ele não tem necessidade, isso significa criar apetite em quem não tem fome”.
Deste modo o professor filosofia, além de ensinar a própria disciplina, tem a exigente tarefa  de fazer com que os conteúdos  sejam significativos  para o horizonte de vida de seus interlocutores.  Para isso o professor precisará também relacionar o que vai ensinar com aquilo que o aluno já sabe, ou pelo menos, já vivência no seu cotidiano.
Para aprender filosofia os alunos precisaram antes ser despertados ao interesse por ela e isso implica oferecer a possibilidade de elaborar alguns aspectos importantes da vida interrogando-se e problematizando sobre eles.
Neste caso está mais do que evidente que não basta a adoção de manuais  para o ensino da filosofia, eles até podem ser úteis como instrumentos para facilitar o pensar e a sistematização  da problematicidade  do processo de ensino e aprendizagem da filosofia e do filosofar.
Estudar filosofia é muito mais do que contemplar os tempos e os espaços da história da filosofia como alguém que enxerga extasiado monumentos, museus e obras de arte, muitas vezes sem entender a razão da sua existência.
O professor de filosofia é desafiado a aplicar no seu cotidiano a máxima kantiana: “não se aprende filosofia, antes se aprende filosofar”  sem, contudo, deixar à mercê do nada o processo histórico que deu origem ao processo de questionamentos e argumentação que Kant denomina “filosofar”.
Em resumo, trata-se de aprender filosofar, conhecendo também a filosofia, do contrário se estará descaracterizando o saber filosófico em favor de temas transversais. Conhecer a filosofia não é mero acessório no exercício de filosofar.  Compreendido isso, pode se afirmar, sem sobra de dúvida, que história da filosofia - não no seu sentido linear, mas no âmago das questões que foram importantes em cada contexto -  e filosofia, como arte de filosofar, são inseparáveis.
Na arte de ensinar e aprender filosofar o professor precisará despertar nos seus discípulos a filosofia como algo vivo e de atualidade  para as reflexões do seu cotidiano.  Não se trata então, de reescrever o que outros disseram ao longo da história, mas de repensar tudo o que foi objeto da filosofia num constante movimento de reflexão.  Isso significa dizer que estudar filosofia implica manter escancarada a porta entre reflexões do presente e do passado.
A título de conclusão é importante ter em conta que discutir um determinado assunto como parte do ensino da filosofia implica ser interrogado por ele na tradição filosófica fazendo  a ponte entre o cotidiano dos alunos e as discussões que já foram levantadas ao longo da história.



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