FILOSOFIA EM SALA DE AULA
Se fosse possível
afirmar que o ensino da filosofia no ensino médio tem um norte, poderia se
organizar de modo didático dizendo que a função dela em sala de aula consiste
em:
a)
Criar mediações pedagógicas facilitadoras do
processo de aprendizagem;
b)
Promover a capacidade de o aluno pensar por si
próprio;
Enquanto o
aluno não for capaz de pensar por si próprio (copia, repete, exercita) ele age
de acordo com a afirmação Kantiana: “Vive na menoridade intelectual”. Isso
significa dizer: o aluno sabe regras, normas e fórmulas, mas quando precisa
delas no seu cotidiano é incapaz de servir-se para a construção da sua
autonomia.
Neste sentido
na disciplina de filosofia o aluno merece ter contato com alguns textos
filosóficos, que resumem o pensamento de
determinado autor e entender as indagações e os argumentos que fundamentam a
opinião do autor. Neste ponto é importante que o estudante seja capaz de
problematizar, argumentar, conceituar tendo a seu alcance conteúdos da história
da filosofia.
Por sua parte
o professor tem, pelo menos, dois
caminhos a seguir: Fazer uma aula a
partir das deficiências e limites do aluno ou investir numa real democratização
do saber. Essa segunda implica estar convencido que todos tem oportunidade de
dominar conhecimentos com qualidade e desenvolver inteligência crítica e
criadora.
O ensino da
filosofia na escola tem como tarefa fundamental permitir que esteja ao alcance
de todos mediações intelectuais de uma disciplina cuja essência é a
abstração. Ensinar e aprender filosofia
implica produzir saberes mais do que simplesmente transmitir o que já se sabe,
porém, um não exclui o outro.
Uma das
primeiras dificuldades vivenciadas pelo professor de filosofia consiste na
certeza de que a o estudo desta disciplina não é uma escolha do estudante de
ensino médio, o qual nesta etapa da vida está mais preocupado com sua formação
técnica e profissional ou na melhor das hipóteses alcançar as cadeiras de uma
universidade. No contexto em que vivem
os estudantes do nível médio, a filosofia esta longe de qualquer necessidade
espiritual alimentada por eles.
A tarefa do
professor de filosofia, segundo Rui Gárcio Souza Dias consiste em “navegar contra a corrente das
necessidades culturais dos alunos. Quase nada no cotidiano dos jovens pede juízo
filosófico. Neste caso ensinar filosofia
significa dar ao jovem algo que ele não tem necessidade, isso significa
criar apetite em quem não tem fome”.
Deste modo o
professor filosofia, além de ensinar a própria disciplina, tem a exigente
tarefa de fazer com que os
conteúdos sejam significativos para o horizonte de vida de seus
interlocutores. Para isso o professor
precisará também relacionar o que vai ensinar com aquilo que o aluno já sabe,
ou pelo menos, já vivência no seu cotidiano.
Para aprender
filosofia os alunos precisaram antes ser despertados ao interesse por ela e
isso implica oferecer a possibilidade de elaborar alguns aspectos importantes
da vida interrogando-se e problematizando sobre eles.
Neste caso
está mais do que evidente que não basta a adoção de manuais para o ensino da filosofia, eles até podem
ser úteis como instrumentos para facilitar o pensar e a sistematização da problematicidade do processo de ensino e aprendizagem da
filosofia e do filosofar.
Estudar
filosofia é muito mais do que contemplar os tempos e os espaços da história da
filosofia como alguém que enxerga extasiado monumentos, museus e obras de arte,
muitas vezes sem entender a razão da sua existência.
O professor
de filosofia é desafiado a aplicar no seu cotidiano a máxima kantiana: “não se
aprende filosofia, antes se aprende filosofar”
sem, contudo, deixar à mercê do nada o processo histórico que deu origem
ao processo de questionamentos e argumentação que Kant denomina “filosofar”.
Em resumo,
trata-se de aprender filosofar, conhecendo também a filosofia, do contrário se estará
descaracterizando o saber filosófico em favor de temas transversais. Conhecer a
filosofia não é mero acessório no exercício de filosofar. Compreendido isso, pode se afirmar, sem sobra
de dúvida, que história da filosofia - não no seu sentido linear, mas no âmago
das questões que foram importantes em cada contexto - e filosofia, como arte de filosofar, são
inseparáveis.
Na arte de
ensinar e aprender filosofar o professor precisará despertar nos seus
discípulos a filosofia como algo vivo e de atualidade para as reflexões do seu cotidiano. Não se trata então, de reescrever o que
outros disseram ao longo da história, mas de repensar tudo o que foi objeto da
filosofia num constante movimento de reflexão.
Isso significa dizer que estudar filosofia implica manter escancarada a
porta entre reflexões do presente e do passado.
A título de
conclusão é importante ter em conta que discutir um determinado assunto como
parte do ensino da filosofia implica ser interrogado por ele na tradição
filosófica fazendo a ponte entre o
cotidiano dos alunos e as discussões que já foram levantadas ao longo da
história.
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