ESCOLA DE EDUCAÇÃO
BÁSICA PROFESSORA ADELINA RÉGIS
DIRETORA GERAL: Profª. Marizete
Nesi Possenti
ASSESSORES DE DIREÇÃO: Ivonei Dambrós e Raquel Francio
ARTICULADOR TÉCNICO PEDAGOGICO: Leonilda
Dorneles
PROFESSORES: Elcio Alberton
DISCIPLINA: Filosofia - Ano Letivo 2014 – 3º BIMESTRE
O QUE É POSSÍVEL CONHECER...?
A palavra “conhecimento”
significa a possiblidade que o ser humano tem apropriar-se intelectualmente de
um objeto. A Origem da palavra está na língua latina: COGNOSCERE. Diante desta
derivação afirmar que alguém conhece alguma coisa significa dizer a pessoa
estabeleceu uma relação entre sujeito e objeto, neste caso, o segundo é
apropriado pelo primeiro. O produto, ou resultado do conhecimento se denomina
também com o termo sabedoria acumulada por uma determinada cultura ou tradição.
Um dos modos mais
elementares do conhecimento se chama intuição, que em filosofia se denomina
conhecimento imediato, primeira impressão e quase sempre impossível ser
provado. Depois desta primeira possibilidade a filosofia permite desenvolver o
conhecimento discursivo, o qual, como a
palavra já afirma, pode ser provado e exemplificado por meio de argumentos e
fatos.
Atividade:
Quando verbalizada a expressão “2” o sujeito faz uma
primeira imagem intuitiva. Faça um desenho representando esta forma de
conhecer.
Pensando agora num
conhecimento discursivo desenhe um conjunto de qualquer coisa e explique de
forma discursiva.
CETICISMO
A palavra cético se
aplica à pessoa que duvida de tudo, muitas vezes classificado como um
descrente, ou aquele que precisa “ver para crer”. Define-se ainda como cético
alguém que é desconfiado pessimista e descrente.
A expressão grega SKÉPSIS significa investigação, questionamento. Diz-se
com muita frequência que o cético, depois de examinar todas as possibilidades
conclui pela impossibilidade de conhecer qualquer coisa.
A pessoa que se deixa
guiar pelo ceticismo, admite uma forma muito limitada de conhecer a verdade. Ao
contrário a expressão dogmático se aplica ao sujeito que tem pensamentos
autoritários, decisivos, que não admite ser contrariado. As ideias e
pensamentos do dogmático são quase sempre impositivas.
Destas duas palavras
surgem os termos dogmatismo e ceticismo. Para efeito de estudo, nas ciências
humanas, interessa o significado de ambas as expressões e sua aplicação no
pensamento filosófico desde a sua origem.
As primeiras variações
sobre a impossibilidade de conhecer tem origem no século IV antes de Cristo com
o filósofo Górgias, o qual desenvolveu três teses:
a)
O SER não existe;
b)
Se existe qualquer coisa ela é impossível de ser
conhecida;
c)
Se por acaso fosse possível conhecer, tal condição
seria impossível comunica-la para outros;
A primeira aplicação da
palavra ceticismo com interpretação filosófica foi feita pelo filósofo grego
Pirro que viveu no final século IV antes de Cristo. Segundo o pensamento deste
filósofo o ser humano não tem
possibilidade de ter certeza sobre nada. Note-se que a preocupação com a
possibilidade de conhecer a verdade é marca registrada de toda a filosofia
desde o seu nascimento.
Nas suas andanças pelo
mundo, Pirro confrontou os conhecimentos de diversas culturas e não aderiu a
nenhuma delas. Segundo ele a atitude mais coerente que qualquer pessoa pode ter
sobre algo é suspender qualquer questionamento e aceitar com tranquilidade que
o ser humano está impossibilitado de distinguir entre o certo e o errado.
Do ponto de vista do
ceticismo esta condição é para o ser humano uma atitude ética, posto que
aqueles que pretendem conhecer verdades estarão destinados a serem infelizes porque todas as coisas são
passageiras e portanto impossíveis de serem conhecidas.
Quando o ser humano
substituiu as explicações mitológicas para compreender a origem das coisas
nasceu então a filosofia. Quase dois séculos depois Pirro afirma que o
conhecimento é impossível. Segundo a história, este filósofo teve uma vida
longa exatamente por não se preocupar com nenhuma forma de conhecimento. Diante
da impossibilidade de conhecer, Pirro, jamais teria feito qualquer busca para
sair da ignorância. Ele mesmo classifica três atitudes possíveis para um
cético:
a)
Afasia (Calado, não tem opinião sobre nada)
b)
Apatia (Insensibilidade, tanto faz, não me diz
respeito)
c)
Ataraxia (Ausência de perturbação)
De acordo com o
pensamento deste autor, a pessoa que deseja conhecer algo tem dois caminhos:
usar o método crítico, o pensamento científico, ou simplesmente contentar-se
com as evidencias dos sentidos, chamadas também de empíricas. Estando
convencido que o conhecimento da verdade é impossível sobre qualquer ponto de
vista, o cético acaba por não se preocupar com nada, posição, que segundo o
fundador do ceticismo filosófico é garantia de vida longa.
Na idade média o francês
Michel de Montagne é um defensor do ceticismo moderno. Ele é contrário às
certezas da doutrina escolástica e à
intolerância religiosa que marcou esse período da história. Analisando a
influência de fatores pessoais na formulação de opiniões, Montagne conclui pela
impossibilidade de alcançar o conhecimento e prefere manter a dúvida em lugar
da certeza. Dentre as afirmações de Montagne, sobre a subjetividade do
conhecimento, destaca-se a seguinte afirmação:
“Cada qual considera bárbaro o que não se pratica em
sua terra. E é natural, porque só podemos julgar da verdade e da razão de ser
das coisas pelo exemplo e pela ideia dos usos e costumes do país em que
vivemos”[1]
No século XVIII o escocês
David Hume defende o ceticismo a partir da convicção de que o ser humano é
escravo dos sentidos e por causa deles reduz qualquer possibilidade de ter
certezas sobre nada. Embora ele mesmo não se declare um cético, considera
vantagem para o ser humano um ‘meio termo’ afirmando que o sujeito não deve
buscar respostas além daquelas mínimas necessárias para sua convivência em
sociedade. De acordo com Hume o conhecimento tem sempre origem em uma causa
anterior. Sua posição pode ser entendida na seguinte afirmação:
“...após descobrir, pela observação de muitos exemplos, que duas espécies
de objetos, como a chama e o calor, a neve e o frio, aparecem sempre ligadas,
se a chama ou a neve se apresenta novamente aos sentidos, a mente é levada pelo
hábito a esperar o calor ou o frio e acreditar que tal qualidade existe
realmente e se manifestará a quem chegar mais perto” [2]
Dentre os brasileiros o
filósofo Oswaldo Porchat Pereira pode ser classificado como o mais expressivo
sucessor de Pirro. Segundo Porchat o conhecimento que o ser humano tem da
realidade não passa de uma racionalização precária, provisória e relativa. Tal
compreensão aparece na sua afirmação:
“Visão de mundo que se reconhece sujeita a uma evolução permanente, que
exigirá por isso mesmo uma revisão constante. A natureza mesma de um tal
empreendimento, que certamente visa a obtenção de resultados relativamente consensuais,
se acomoda sem maior problema ao pluralismo de pontos de vista e de
perspectivas de fenômenos diferentes. Ao antigo conflito das verdades se
substitui agora o diálogo desses pontos de vista e dessas perspectivas.
Mantém-se a aposta no caráter intersubjetivo da racionalidade. Mercê de sua
postura cética, a filosofia se pode pensar sob o prisma da comunicação, da
conversa, do diálogo, do consenso e ... da relatividade. E assim pensada ela
pode contribuir – e muito - para
favorecer o entendimento entre os homens: tendo destruído as verdades, ela
poderá eventualmente ensiná-los a conviver com as suas diferenças”[3]
DOGMATISMO
A expressão “dogmático”
no seu sentido filosófico significa oposição. Ou o que se pode definir como a
“opinião como ela é”, tem a ver com doutrina. Por isso mesmo, muitas vezes a expressão
“dogma” é utilizado como sinônimo de verdades religiosas, embora nem sempre
tenha este significado e para a filosofia não é de fato.
Na filosofia a expressão
significa defesa de verdade absoluta que garanta uma determinada verdade no seu
ponto final independente de qualquer exame ou argumentação.
No senso comum entende-se
por dogmático a aceitação de certezas não questionadas, nestes casos o defensor
de uma determinada compreensão abre mão da possibilidade de qualquer dúvida
sobre o fato.
O dogmático é o tipo do
sujeito que se cristaliza, petrifica, resiste ao diálogo, teme o novo e pior
que isso impõe seu ponto de vista aos demais do seu convívio. O dogmatismo é muito comum na defesa de
ideias políticas, religiosas e ideológicas. Em geral o dogmático nega a
possibilidade da pluralidade de ideias e quando se trata de política abre
espaço para o chamado “estado único”.
As doutrinas dogmáticas
tem tudo a ver com censura, repressão, liberdade vigiada. No mundo temos vários
exemplos recentes: A Russia comunista, o Nazismo na Alemanha, o Facismo na Itália,
o Castrismo em Cuba, o Getulhismo no Brasil a Ditadura Militar no Brasil.
Da ponto de vista da
filosofia não se pode falar em dogmatismo sob a interpretação pejorativa, que
não recebia nenhuma crítica, como se aplica ao termo no senso comum. Para a
filosofia entende-se como dogmática a atitude dos filósofos que estão
convencidos de que a razão pode alcançar a verdade absoluta.
A posição do filósofo
escocês David Hume que colocou em dúvida a possibilidade de conhecer contribuiu
muito para a filosofia desenvolvida por Emanuel Kant que desenvolveu a doutrina
chamada Criticismo. Este último chega a conclusão que é impossível conhecer as
coisas como elas são, mas apenas o modo como elas aparecem.
Para Kant algumas
verdades não podem ser conhecidas pela razão, entre elas a ideia de Deus, de
alma, de liberdade. São todas verdades que precisam aceitas por que elas “são”
e pronto.
Kant atribui a
característica de dogmático aos filósofos que vieram antes dele, uma vez que
estes não se preocuparam com discussões sobre a possibilidade de conhecer
certas verdades. Kant chegou a afirmar que seus predecessores “não acordaram do
sono dogmático”, expressão que significa manter a confiança não questionada
sobre o poder da razão.
Entre os filósofos que
“dormem” pode ser incluído Rene Descartes para quem era possível alcançar uma
verdade indubitável. Este filósofo desenvolveu a chamada “dúvida metódica”.
Estas duas teorias deram origem a outras maneiras de
aceitar, compreender e buscar a verdade. Para ter acesso às maneiras de buscar
a verdade algumas perguntas são indispensáveis para quem quer alcançar o conhecimento:
a) Quais são os critérios?
b) O que a verdade exige para que seja aceita?
c) Quando pode-se afirmar que algo é verdadeiro?
TEORIAS
SOBRE A VERDADE
Para as três perguntas a resposta que parece mais
adequada pode ser: Evidência! Esta certeza que marcou a vida de muitos
filósofos também recebeu muitas críticas.
Desde Aristóteles – 600 anos antes de Cristo – a
aceitação de uma afirmação como verdadeira depende da correspondência com a
realidade. Esta condição, embora pareça fácil para ser aceita merece ainda uma
outra pergunta: A verdade é como é ou como aparece? Que garantias alguém pode
ter de que seus pensamentos correspondem com os fatos?
As repostas dadas como absolutas pelos filósofos
antigos e médios sofreram questionamentos importantes no final do século XIX e
início do século XX, sobretudo foram
feitas críticas sobre a afirmação absoluta de que uma verdade deveria
necessária e unicamente ter correspondência com
a coisa como ela se deixa ver.
O filósofo francês Paul Ricoeur, que viveu até 2005,
apontou um trio de filósofos aos quais chamou de “mestres da suspeita”, a estes
poderia também ser atribuído o título de céticos da atualidade. A lista
tríplice é composta por Marx, Nietzsche e Freud. Segundo a compreensão destes
filósofos para aceitar uma verdade o sujeito precisa interpretar aquilo que
julga conhecer tentando decifrar o sentido oculto da verdade que pode ser
conhecida pelos sentidos.
Segundo Marx, toda e qualquer ideia precisa ser
vista e analisada a partir do contexto em que ela foi desenvolvida. Isto
significa levar em conta as realidades materiais e as forças produtivas de uma
determinada sociedade. A verdade precisa ser interpretada desde as contradições dentro dela mesma.
Feita esta consideração há que se compreender que não existem verdades
absolutas, posto que quase sempre elas são impostas a partir da classe
dominante.
Não é raro que uma sociedade inteira aceite verdades
filosóficas, jurídicas, éticas, políticas e até mesmo religiosas a partir do
pensamento daqueles que mandam na sociedade. Sempre que isso acontece, tem-se
então uma ideologia, ou seja, um conhecimento ilusório que disfarça (mascara)
os conflitos sociais e continuam garantindo a dominação de uns sobre os outros.
Já Nietzsche afirmou que o conhecimento não passa de
uma interpretação dos sentidos e não se constitui em explicação da realidade.
Sempre que se atribui um sentido para alguma coisa se está conferindo valores
que se quer mostrar ou ocultar sobre uma determinada verdade. Para Nietzsche
conhecer é o resultado da luta entre compromisso e instinto. A verdade, neste
caso, não é mais um valor que a coisa ou
o fato adquire, mas um valor pelo fato de existir. Para este pensador é importante
procurar a verdade olhando os fatos e as coisas sobre diversos pontos de vista.
Quanto maiores as variações para aceitar uma verdade mais fácil compreender a
complexidade de cada verdade.
O terceiro membro do trio chamado “mestres da
suspeita” foi Sigmund Freud. Segundo ele o centro de todas as decisões e,
portanto, o único responsável pela aceitação de uma determinada verdade é o inconsciente.
Isso significa dizer que as reações de uma determinada pessoa em relação às
verdades encontra sua justificativa no inconsciente e fora do controle do
próprio sujeito. Por causa desta certeza, Freud afirma que todo e qualquer ato
humano tem sua significação oculta. Como exemplo se poderia afirmar que os
momentos de consciência, isto é, que a pessoa age sabendo o que está fazendo, é
apenas a ponta de um iceberg.
A denominação “mestres da suspeita” aplicada aos
três filósofos contemporâneos encontra justificativa, uma vez que as opiniões
dos três influenciam até os dias de hoje toda a forma de pensar e de aceitar
verdades.
A VERDADE ESTÁ LOGO AÍ...
Desde a origem da filosofia, compreender a verdade
se tornou a preocupação principal de todos os pensadores e de todas as
correntes. Até os dias de hoje a melhor maneira de ter certezas sobre algumas
coisas é abrir a possibilidade do diálogo. Que de acordo com as doutrinas do
ceticismo e do dogmatismo implica desconfiar das verdades e certezas absolutas.
Não se deixar influenciar pelo ceticismo radical –
que recusa até a filosofia – ou ao
dogmatismo – que se contenta com verdades absolutas – permite ao ser humano
lidar melhor com o espanto, a admiração a controvérsia e entrar num contínuo
movimento entre a certeza e a incerteza.
Buscar e reconhecer a verdade continua sendo um desafio humano e necessário que exige
liberdade de pensamento e capacidade para o diálogo de modo a compartilhar as
interpretações possíveis da realidade.
[1]
MONTAGNE, Michel. Ensaios. São Paulo: Abril cultural, 1972, p. 104 (coleção
pensadores).
[2]
HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano. Seção XII, Parte III.
São Paulo: Abril Cultural, 1973. P. 196.
[3]
PEREIRA, Oswaldo Porchat. Vida comum e ceticismo. São Paulo: Brasiliense, 1993.
P. 252.
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