terça-feira, 5 de agosto de 2014

MATÉRIA DE FILOSOFIA PARA O TERCEIRO BIMESTRE 2014

ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA PROFESSORA ADELINA RÉGIS
DIRETORA GERAL: Profª. Marizete Nesi Possenti
ASSESSORES DE DIREÇÃO:  Ivonei Dambrós e Raquel Francio
ARTICULADOR TÉCNICO PEDAGOGICO: Leonilda Dorneles
PROFESSORES: Elcio Alberton
DISCIPLINA: Filosofia  - Ano Letivo 2014 – 3º BIMESTRE
O QUE É POSSÍVEL CONHECER...?
A palavra “conhecimento” significa a possiblidade que o ser humano tem apropriar-se intelectualmente de um objeto. A Origem da palavra está na língua latina: COGNOSCERE.  Diante desta derivação afirmar que alguém conhece alguma coisa significa dizer a pessoa estabeleceu uma relação entre sujeito e objeto, neste caso, o segundo é apropriado pelo primeiro. O produto, ou resultado do conhecimento se denomina também com o termo sabedoria acumulada por uma determinada cultura ou tradição.
Um dos modos mais elementares do conhecimento se chama intuição, que em filosofia se denomina conhecimento imediato, primeira impressão e quase sempre impossível ser provado. Depois desta primeira possibilidade a filosofia permite desenvolver o conhecimento discursivo, o qual,  como a palavra já afirma, pode ser provado e exemplificado por meio de argumentos e fatos.
Atividade:
Quando  verbalizada a expressão “2” o sujeito faz uma primeira imagem intuitiva. Faça um desenho representando esta forma de conhecer.
Pensando agora num conhecimento discursivo desenhe um conjunto de qualquer coisa e explique de forma discursiva.

CETICISMO
A palavra cético se aplica à pessoa que duvida de tudo, muitas vezes classificado como um descrente, ou aquele que precisa “ver para crer”. Define-se ainda como cético alguém que é desconfiado pessimista e descrente.
A expressão grega SKÉPSIS  significa investigação, questionamento. Diz-se com muita frequência que o cético, depois de examinar todas as possibilidades conclui pela impossibilidade de conhecer qualquer coisa.
A pessoa que se deixa guiar pelo ceticismo, admite uma forma muito limitada de conhecer a verdade. Ao contrário a expressão dogmático se aplica ao sujeito que tem pensamentos autoritários, decisivos, que não admite ser contrariado. As ideias e pensamentos do dogmático são quase sempre impositivas.
Destas duas palavras surgem os termos dogmatismo e ceticismo. Para efeito de estudo, nas ciências humanas, interessa o significado de ambas as expressões e sua aplicação no pensamento filosófico desde a sua origem.
As primeiras variações sobre a impossibilidade de conhecer tem origem no século IV antes de Cristo com o filósofo Górgias, o qual desenvolveu três teses:
a)    O SER não existe;
b)    Se existe qualquer coisa ela é impossível de ser conhecida;
c)    Se por acaso fosse possível conhecer, tal condição seria impossível comunica-la para outros;
A primeira aplicação da palavra ceticismo com interpretação filosófica foi feita pelo filósofo grego Pirro que viveu no final século IV antes de Cristo. Segundo o pensamento deste filósofo o ser humano não tem  possibilidade de ter certeza sobre nada. Note-se que a preocupação com a possibilidade de conhecer a verdade é marca registrada de toda a filosofia desde o seu nascimento.
Nas suas andanças pelo mundo, Pirro confrontou os conhecimentos de diversas culturas e não aderiu a nenhuma delas. Segundo ele a atitude mais coerente que qualquer pessoa pode ter sobre algo é suspender qualquer questionamento e aceitar com tranquilidade que o ser humano está impossibilitado de distinguir entre o certo e o errado.
Do ponto de vista do ceticismo esta condição é para o ser humano uma atitude ética, posto que aqueles que pretendem conhecer verdades estarão destinados a  serem infelizes porque todas as coisas são passageiras e portanto impossíveis de serem conhecidas.
Quando o ser humano substituiu as explicações mitológicas para compreender a origem das coisas nasceu então a filosofia. Quase dois séculos depois Pirro afirma que o conhecimento é impossível. Segundo a história, este filósofo teve uma vida longa exatamente por não se preocupar com nenhuma forma de conhecimento. Diante da impossibilidade de conhecer, Pirro, jamais teria feito qualquer busca para sair da ignorância. Ele mesmo classifica três atitudes possíveis para um cético:
a)    Afasia (Calado, não tem opinião sobre nada)
b)    Apatia (Insensibilidade, tanto faz, não me diz respeito)
c)    Ataraxia (Ausência de perturbação)
De acordo com o pensamento deste autor, a pessoa que deseja conhecer algo tem dois caminhos: usar o método crítico, o pensamento científico, ou simplesmente contentar-se com as evidencias dos sentidos, chamadas também de empíricas. Estando convencido que o conhecimento da verdade é impossível sobre qualquer ponto de vista, o cético acaba por não se preocupar com nada, posição, que segundo o fundador do ceticismo filosófico é garantia de vida longa.
Na idade média o francês Michel de Montagne é um defensor do ceticismo moderno. Ele é contrário às certezas da doutrina escolástica  e à intolerância religiosa que marcou esse período da história. Analisando a influência de fatores pessoais na formulação de opiniões, Montagne conclui pela impossibilidade de alcançar o conhecimento e prefere manter a dúvida em lugar da certeza. Dentre as afirmações de Montagne, sobre a subjetividade do conhecimento, destaca-se a seguinte afirmação:
“Cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra. E é natural, porque só podemos julgar da verdade e da razão de ser das coisas pelo exemplo e pela ideia dos usos e costumes do país em que vivemos”[1]
No século XVIII o escocês David Hume defende o ceticismo a partir da convicção de que o ser humano é escravo dos sentidos e por causa deles reduz qualquer possibilidade de ter certezas sobre nada. Embora ele mesmo não se declare um cético, considera vantagem para o ser humano um ‘meio termo’ afirmando que o sujeito não deve buscar respostas além daquelas mínimas necessárias para sua convivência em sociedade. De acordo com Hume o conhecimento tem sempre origem em uma causa anterior. Sua posição pode ser entendida na seguinte afirmação:
“...após descobrir, pela observação de muitos exemplos, que duas espécies de objetos, como a chama e o calor, a neve e o frio, aparecem sempre ligadas, se a chama ou a neve se apresenta novamente aos sentidos, a mente é levada pelo hábito a esperar o calor ou o frio e acreditar que tal qualidade existe realmente e se manifestará a quem chegar mais perto[2]
Dentre os brasileiros o filósofo Oswaldo Porchat Pereira pode ser classificado como o mais expressivo sucessor de Pirro. Segundo Porchat o conhecimento que o ser humano tem da realidade não passa de uma racionalização precária, provisória e relativa. Tal compreensão aparece na sua afirmação:
Visão de mundo que se reconhece sujeita a uma evolução permanente, que exigirá por isso mesmo uma revisão constante. A natureza mesma de um tal empreendimento, que certamente visa a obtenção de resultados relativamente consensuais, se acomoda sem maior problema ao pluralismo de pontos de vista e de perspectivas de fenômenos diferentes. Ao antigo conflito das verdades se substitui agora o diálogo desses pontos de vista e dessas perspectivas. Mantém-se a aposta no caráter intersubjetivo da racionalidade. Mercê de sua postura cética, a filosofia se pode pensar sob o prisma da comunicação, da conversa, do diálogo, do consenso e ... da relatividade. E assim pensada ela pode contribuir – e muito  - para favorecer o entendimento entre os homens: tendo destruído as verdades, ela poderá eventualmente ensiná-los a conviver com as suas diferenças[3]
DOGMATISMO
A expressão “dogmático” no seu sentido filosófico significa oposição. Ou o que se pode definir como a “opinião como ela é”, tem a ver com doutrina. Por isso mesmo, muitas vezes a expressão “dogma” é utilizado como sinônimo de verdades religiosas, embora nem sempre tenha este significado e para a filosofia não é de fato.
Na filosofia a expressão significa defesa de verdade absoluta que garanta uma determinada verdade no seu ponto final independente de qualquer exame ou argumentação.
No senso comum entende-se por dogmático a aceitação de certezas não questionadas, nestes casos o defensor de uma determinada compreensão abre mão da possibilidade de qualquer dúvida sobre o fato.
O dogmático é o tipo do sujeito que se cristaliza, petrifica, resiste ao diálogo, teme o novo e pior que isso impõe seu ponto de vista aos demais do seu convívio.  O dogmatismo é muito comum na defesa de ideias políticas, religiosas e ideológicas. Em geral o dogmático nega a possibilidade da pluralidade de ideias e quando se trata de política abre espaço para o chamado “estado único”.
As doutrinas dogmáticas tem tudo a ver com censura, repressão, liberdade vigiada. No mundo temos vários exemplos recentes: A Russia comunista, o Nazismo na Alemanha, o Facismo na Itália, o Castrismo em Cuba, o Getulhismo no Brasil a Ditadura Militar no Brasil.
Da ponto de vista da filosofia não se pode falar em dogmatismo sob a interpretação pejorativa, que não recebia nenhuma crítica, como se aplica ao termo no senso comum. Para a filosofia entende-se como dogmática a atitude dos filósofos que estão convencidos de que a razão pode alcançar a verdade absoluta.
A posição do filósofo escocês David Hume que colocou em dúvida a possibilidade de conhecer contribuiu muito para a filosofia desenvolvida por Emanuel Kant que desenvolveu a doutrina chamada Criticismo. Este último chega a conclusão que é impossível conhecer as coisas como elas são, mas apenas o modo como elas aparecem.
Para Kant algumas verdades não podem ser conhecidas pela razão, entre elas a ideia de Deus, de alma, de liberdade. São todas verdades que precisam aceitas por que elas “são” e pronto.
Kant atribui a característica de dogmático aos filósofos que vieram antes dele, uma vez que estes não se preocuparam com discussões sobre a possibilidade de conhecer certas verdades. Kant chegou a afirmar que seus predecessores “não acordaram do sono dogmático”, expressão que significa manter a confiança não questionada sobre o poder da razão.
Entre os filósofos que “dormem” pode ser incluído Rene Descartes para quem era possível alcançar uma verdade indubitável. Este filósofo desenvolveu a chamada “dúvida metódica”.
Estas duas  teorias deram origem a outras maneiras de aceitar, compreender e buscar a verdade. Para ter acesso às maneiras de buscar a verdade algumas perguntas são indispensáveis para quem quer alcançar o conhecimento:
a)    Quais são os critérios?
b)    O que a verdade exige para que seja aceita?
c)    Quando pode-se afirmar que algo é verdadeiro?
TEORIAS SOBRE A VERDADE
Para as três perguntas a resposta que parece mais adequada pode ser: Evidência! Esta certeza que marcou a vida de muitos filósofos também recebeu muitas críticas.
Desde Aristóteles – 600 anos antes de Cristo – a aceitação de uma afirmação como verdadeira depende da correspondência com a realidade. Esta condição, embora pareça fácil para ser aceita merece ainda uma outra pergunta: A verdade é como é ou como aparece? Que garantias alguém pode ter de que seus pensamentos correspondem com os fatos?
As repostas dadas como absolutas pelos filósofos antigos e médios sofreram questionamentos importantes no final do século XIX e início do século XX, sobretudo  foram feitas críticas sobre a afirmação absoluta de que uma verdade deveria necessária e unicamente ter correspondência com  a coisa  como ela se deixa ver.
O filósofo francês Paul Ricoeur, que viveu até 2005, apontou um trio de filósofos aos quais chamou de “mestres da suspeita”, a estes poderia também ser atribuído o título de céticos da atualidade. A lista tríplice é composta por Marx, Nietzsche e Freud. Segundo a compreensão destes filósofos para aceitar uma verdade o sujeito precisa interpretar aquilo que julga conhecer tentando decifrar o sentido oculto da verdade que pode ser conhecida pelos sentidos.
Segundo Marx, toda e qualquer ideia precisa ser vista e analisada a partir do contexto em que ela foi desenvolvida. Isto significa levar em conta as realidades materiais e as forças produtivas de uma determinada sociedade. A verdade precisa ser interpretada  desde as contradições dentro dela mesma. Feita esta consideração há que se compreender que não existem verdades absolutas, posto que quase sempre elas são impostas a partir da classe dominante.
Não é raro que uma sociedade inteira aceite verdades filosóficas, jurídicas, éticas, políticas e até mesmo religiosas a partir do pensamento daqueles que mandam na sociedade. Sempre que isso acontece, tem-se então uma ideologia, ou seja, um conhecimento ilusório que disfarça (mascara) os conflitos sociais e continuam garantindo a dominação de uns sobre os outros.
Já Nietzsche afirmou que o conhecimento não passa de uma interpretação dos sentidos e não se constitui em explicação da realidade. Sempre que se atribui um sentido para alguma coisa se está conferindo valores que se quer mostrar ou ocultar sobre uma determinada verdade. Para Nietzsche conhecer é o resultado da luta entre compromisso e instinto. A verdade, neste caso, não é mais um valor que  a coisa ou o fato adquire, mas um valor pelo fato de existir. Para este pensador é importante procurar a verdade olhando os fatos e as coisas sobre diversos pontos de vista. Quanto maiores as variações para aceitar uma verdade mais fácil compreender a complexidade de cada verdade.
O terceiro membro do trio chamado “mestres da suspeita” foi Sigmund Freud. Segundo ele o centro de todas as decisões e, portanto, o único responsável pela aceitação de uma determinada verdade é o inconsciente. Isso significa dizer que as reações de uma determinada pessoa em relação às verdades encontra sua justificativa no inconsciente e fora do controle do próprio sujeito. Por causa desta certeza, Freud afirma que todo e qualquer ato humano tem sua significação oculta. Como exemplo se poderia afirmar que os momentos de consciência, isto é, que a pessoa age sabendo o que está fazendo, é apenas a ponta de um iceberg.
A denominação “mestres da suspeita” aplicada aos três filósofos contemporâneos encontra justificativa, uma vez que as opiniões dos três influenciam até os dias de hoje toda a forma de pensar e de aceitar verdades.
A VERDADE ESTÁ LOGO AÍ...
Desde a origem da filosofia, compreender a verdade se tornou a preocupação principal de todos os pensadores e de todas as correntes. Até os dias de hoje a melhor maneira de ter certezas sobre algumas coisas é abrir a possibilidade do diálogo. Que de acordo com as doutrinas do ceticismo e do dogmatismo implica desconfiar das verdades e certezas absolutas.
Não se deixar influenciar pelo ceticismo radical – que recusa  até a filosofia – ou ao dogmatismo – que se contenta com verdades absolutas – permite ao ser humano lidar melhor com o espanto, a admiração a controvérsia e entrar num contínuo movimento entre a certeza e a incerteza.
Buscar e reconhecer a verdade continua  sendo um desafio humano e necessário que exige liberdade de pensamento e capacidade para o diálogo de modo a compartilhar as interpretações possíveis da realidade.








[1] MONTAGNE, Michel. Ensaios. São Paulo: Abril cultural, 1972, p. 104 (coleção pensadores).
[2] HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano. Seção XII, Parte III. São Paulo: Abril Cultural, 1973. P. 196.

[3] PEREIRA, Oswaldo Porchat. Vida comum e ceticismo. São Paulo: Brasiliense, 1993. P. 252.

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