segunda-feira, 21 de novembro de 2011

PROFESSOR INESQUECÍVEL...


Os desafios ou as exigências da educação, as necessidades dos alunos, a ausência dos pais, o descomprometimento dos governos, e etc. São apenas algumas considerações sobre as quais se poderia escrever muito quando se trata da “Profissão do Professor”. Neste momento, não me parece que discorrer sobre estas ou outras preocupações do gênero possa ajudar compreender que muito mais do que uma profissão a docência é uma Vocação e uma arte.
É sugestiva a consideração de Cavaco:

Entendo que ser professor é também aceitar a aventura, os riscos, os desafios, perseguir grandes metas, distinguindo-as  dos objetivos realizáveis a curto prazo; manter um certo grau de liberdade.; analisar a experiência própria e reconhecer o valor dos erros e dos acertos; escutar e reconhecer a razão dos outros; repensar a sua vida e reviver cada dia. (NOVOA, 1995, p. 190).

Sob esta  ótica proponho a reflexão sobre a mística e a missão da docência, no sentido de compreender que nenhuma exigência ou dificuldade, por significativa que seja, pode  abalar a determinação e a coragem de fazer o bem, de praticar a justiça de agir com caridade e irradiar alegria.
Ilusão? Nem tanto, isso será perfeitamente possível não, entretanto, sem se deixar “enxarcar” pela paixão do processo ensino aprendizagem. Esse processo consiste em compreender que a profissão de professor, de resto como todas as  demais, são muito mais que execução perfeita de atividades relativas à sua função, trata-se de gosto, prazer, alento em resumo, trata-se de ser um sinal da presença da Deus no meio do mundo.
Estou convencido que o texto do Evangelho de Mateus, no capítulo 25, 31-46 é aplicável na sua totalidade à arte da docência desde as condições que estamos refletindo: “tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos foi a mim que fizestes”. As palavras de Jesus fizeram eco em tantos homens e mulheres ao longo da história e certamente não será diferente no atual momento da história.
São Francisco de Assis pode ser tomado como eixo norteador e modelo a ser imitado para o  bom êxito na missão/vocação da docência:

Ó Mestre, fazei que eu procure mais: consolar que ser consolado, compreender que ser compreendido, amar que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado; e é morrendo que se vive para a vida eterna.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

É PRECISO SABER VIVER...


 
Elcio Alberton[1]

Quem espera que a vida
Seja feita de ilusão
Pode até ficar maluco
Ou morrer na solidão
É preciso ter cuidado
Pra mais tarde não sofrer
É preciso saber viver

Toda pedra do caminho
Você deve retirar
Numa flor que tem espinhos
Você pode se arranhar
Se o bem e o mal existem
Você pode escolher
É preciso saber viver

É preciso saber viver
É preciso saber viver
É preciso saber viver
Saber viver, saber viver!

A origem grega do vocábulo: Σοφία, "Sofía" que mais tarde derivou para φιλοσοφία -"amor à sabedoria" (filos/Sofia), foi muito bem interpretada por Roberto Carlos na letra da canção: É PRECISO SABER  VIVER. De fato, mais do que em outros tempos, a metamorfose civilizatória na qual todos estão imersos pede a capacidade de agir com prudência, com sabedoria, com competência.
As oportunidades, os desafios, as exigências são sempre mais intensas, pertinentes e desafiadoras. Dentre elas não se pode fugir dos desafios atuais que permeiam a educação e os que nela estão envolvidos. Adequar os métodos, as ‘pedagogias’ e aplica-las ao cotidiano da vida escolar é uma questão de sabedoria ou se quiser de “amor à sabedoria” o que traduzido se pode dizer é uma questão de “filosofia”.
Responder a estas exigências já não é mais uma questão de autoridade, de responsabilidade ou de tarefas é uma questão de coletividade. Isto significa convencer-se que nada e em nenhum lugar tem sua resposta na dedicada atuação do “beija flor” que faz a sua parte com a intenção de debelar o incêndio que se alastra pela floresta.
Sem medo de errar, parece evidente que se trata de uma questão de “espiritualidade” de “mística”, de “paixão”. Na comunidade escolar todos estão convidados a sair da segurança das suas respostas para abraçar os desafios das inúmeras e novas perguntas.
Transformar a educação pode ser comparado à parábola do Evangelho: “Um homem foi viajar e deixou seus empregados para cuidar do seu patrimônio. Para um deixou cinco talentos, para outro, dois e para outro um”(Cf. Mt 25,14-30). De todos ele pediu satisfação referente ao período da sua ausência. Somente um deles não deu conta do recado, e não porque a incumbência fosse mais difícil, ou a tarefa mais exigente, ou a escola menos adequada, nem tampouco a qualificação do trabalhador.
Aquele que recebeu apenas um talento que de quem, obviamente, o patrão  não esperava a proporção do que recebeu cinco, se autoqualificou de medroso e incapaz para a tarefa. Enterrou a moeda que recebeu. Pode-se dizer, faltou-lhe ousadia, coragem, determinação. Prefiro dizer, faltou-lhe espiritualidade, mística, paixão!
O resultado não poderia ser outro: “Até o pouco que tem, deixará de ser seu”.
Nossas escolas estão sendo convidadas a multiplicar talentos. Faltam-lhes adequadas condições físicas, didáticas, pedagógicas, e por aí, se poderia continuar elencando uma série de deficiências. Certamente não faltam professores determinados, capazes, corajosos que, de longe, irão enterrar os talentos. Pelo contrário são mistagogos, e vivenciam tal condição fazendo produzir.
Para um é escola integral, para outro ensino médio inovador, para um terceiro alfabetização de jovens e adultos, para outro ainda ensino médio normal. Não importa o talento, nenhum é melhor ou mais importante. Um ou outro pode ser mais adequado ao momento, o que conta é encontrar o jeito de fazer produzir. E a isso chamo de Espiritualidade, de Mística, para o que muito ajuda a familiaridade com o Evangelho.


[1] Padre Católico e professor na Rede Estadual de Santa Catarina

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

ENXARCADOS DE AMOR...


Caro(a)  professor(a), tomo a liberdade de parafrasear o texto “A paixão nacional” escrito por Eugênio Mussak e publicado pela Revista Você s/a nº96, 01/06/2006.
Convido-lhe  a reescrevê-lo assim:

PAIXÃO PELA EDUCAÇÃO...
Em épocas de grandes mudanças, vivemos também grandes preocupações!
A cada novo ano o(a) profissional da docência sente-se chamado a interpretar novas diretrizes emanadas das gerências de educação e algumas vezes da própria sociedade. Obviamente trata-se de aceitá-las ou não aceitá-las, muito mais coerente se é  aceitando-as  e fazendo isso com paixão.
Entenda-se por apaixonado, alguém capaz de trabalhar com comprometimento total, e dar o melhor de si pelos objetivos da educação. Um educador apaixonado é aquele cujos olhos brilham quando a escola tem sucesso e enfurece-se quando ela perde alunos e qualidade. Neste caso, sente como se fosse uma ofensa pessoal, então empenha-se inteiramente e não mede esforços para reverter a situação. O apaixonado sofre com o sofrimento da amada e se alegra com seu sucesso, por isso não tolera quedas de rentabilidade e vibra com o êxito crescente.
Por outro lado, temos que aceitar a responsabilidade que vem junto com as paixões desenvolvidas. Docentes  apaixonados são exigentes e não gostam de situações estáveis. Querem a evolução da escola em ritmo sempre crescente. São irrequietos, insatisfeitos, preocupados. Não entendem os que se acomodam na arte de educar sem buscar alternativas e novas possibilidades. Os apaixonados se doam mas exigem ser ouvidos, querem melhores condições de trabalho, novos desafios, mais responsabilidades. São empreendedores, autônomos e inovadores. São curiosos, transgressores e, às vezes, insolentes.
Apesar disso, queremos professores apaixonados, porque é deles que nasce a vida nova, o brilho da criação, a poesia do sucesso. Estamos dispostos a ser incomodados pelos apaixonados porque eles nos tiram da zona de conforto e nos empurram para novos caminhos. Preferimos o risco de sermos contrariados por um apaixonado ao risco de vermos nossas ordens serem meramente acatadas por um acomodado.
A direção da escola precisa  decidir e se propor a desenvolver a competência e investir tempo e talento dos docentes no sentido de conseguir um grupo de professores apaixonados, porque estes serão os que lhes ajudarão a ter uma escola nova a cada ano que começa.
Pode ser que, como disse o poeta, a paixão é um fogo que consome por dentro, mas também é a luz que ilumina o dia e dá sentido à vida. É ótimo ter – e ajudar a ter – paixões por ideias, tarefas, missões e causas. Afinal, uma escola sem paixões seria como uma Copa do Mundo sem a seleção brasileira. Dá pra imaginar?
Elcio Alberton[1]








[1] Padre Católico e professor na rede estadual de Santa Catarina

TUDO O QUE É NOVO NASCE COM DORES DE PARTO...



COMENTÁRIOS AO TEXTO
ESTRUTURA CONCEPTUAL
DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
DE CARLOS MARCELO GARCIA.

Elcio Alberton[1]


Nossa reflexão a partir da leitura do texto em questão nos leva a fazer algumas observações de caráter bastante pessoal. Concordamos de modo significativo com o conceito de formação adotado pelo autor e o identificamos com nossa proposta de dissertação que trata da Mistagogia na Formação do docente.

A questão da formação do docente é parte de um complexo conjunto de fenômenos formativos e ainda não suficientemente esclarecidos. Muito além de transmissão de conteúdos e técnicas o processo formativo exige envolvimento por inteiro do formando. Trata-se de uma dimensão pessoal que tem a ver com vontade humana e implica em mudança pessoal e comportamental.

Concordamos com o autor na afirmação que a perspectiva formativa é um dos pilares da renovação da educação e que, neste sentido, deve consistir numa matriz disciplinar. Parece oportuno entender a expressão matriz muito mais abrangente do que uma simples relação de conteúdos. Reproduzimos na íntegra o conceito apresentado pelo autor sobre a formação de professores:

“A formação de professores é a área de conhecimentos, investigação e de propostas teóricas e práticas que, no âmbito da Didática e da Organização Escolar, estuda os processos através dos quais os professores – em formação ou em exercício – se implicam individualmente ou em equipe, em experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram os seus conhecimentos, competências e disposições. Este processo lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos recebem.”

Este conceito é a afirmação da primeira expressão do nosso trabalho ao dizer que o professor ensina muito pela sua experiência de vida, isto é, na condição de mistagogo. Nosso trabalho, como o texto em questão, contempla a formação como um enriquecimento de competências não exclusivamente acadêmicas. Em outras palavras a formação é um processo que necessariamente acaba nos alunos. (Se não houve aprendizagem não aconteceu o ensino).

O autor ajuda a entender a formação desde um ponto de vista personalista, no sentido de desenvolver estratégias e competências para um processo de mudança. E aí se delineia a imagem do professor que se aproxima do modelo eficaz sendo um ser humano com todas as vicissitudes próprias da sua condição, mas que se forma em vista do outro. Em outras palavras se poderia dizer que a formação de professores estabelece uma “pedagogia de resultado”.

Então está suficientemente claro que o desenvolvimento pessoal é o eixo da formação docente e um bom professor será aquele que caminha na direção de ser sempre mais um facilitador para criar condições de aprendizagem nos seus alunos a quem ele conhece na integridade. Esta figura não está longe do modelo de filósofo criado por Sócrates com a maiêutica e a ironia.

Neste sentido é mais fácil compreender o professor muito além de ser um técnico, mas construtor, como diria outro autor um “polidor de corações”, pois é das mãos do professor que nasce o ser humano, disse Rosseau. Então, para aquele que deseja ser bom professor pede-se pouco: “fazer o que fazem os bons mestres”, isto é, ser um mistagogo da educação.

A formação entendida como processo de mudança implica na aplicação das novas ideias que se configura num processo de desenvolvimento pessoal e profissional envolvente. Neste contexto todo o processo formativo passa pelo viés da colaboração e para isso o autor cria a expressão: “andragogia” – arte e ciência de ajudar adultos a aprender.
No mundo cristão católico adota-se a prática da lectio divina como uma forma de melhor viver o mistério da Palavra de Deus. Este método é basicamente o que o autor apresenta nas três últimas possibilidades que ele apresenta como as mais eficazes para compreender a formação.

Na Lectio Divina se usa as expressões: LECTIO (leitura), MEDITATIO (meditação), ORATIO (oração), CONTEMPLATIO (contemplação), COMMUNICATIO (comunicação). Aqui o autor apresenta sob os termos: contemplação, prática reflexiva, aprendizagem experimental.

Uma formação que não estabeleça um processo de transformação aborta o sonho dos educadores na maturidade e porque não dizer de outros profissionais. O que o autor chama de quarta etapa no exercício da missão de educar é denominado por um psicólogo da religião com o termo: Generatividade. Esta expressão quer indicar que a esta altura da missão o profissional precisa ver os “filhos dos seus filhos”, isto é o fruto do seu trabalho. Na falta deles, porque ele mesmo não produziu para em si reside a causa da frustração e do desencanto como consequência do desestímulo para os jovens o seguirem nesta missão.

Não será sem razão que nossos velhos cunharam a frase: "É preferível um triste santo a um santo triste”.

Evolução é a meta!



[1] Padre Católico e professor na rede estadual de Santa Catarina

METAMORFOSE CIVILIZATÓRIA...


Tudo o que é novo nasce com dores de parto...


Elcio Alberton[1]

Para compreender melhor o significado da expressão metamorfose civilizatória é importante partir do significado do termo cuja raiz grega metamórphosis significa mudança na forma e na estrutura. Do ponto de vista da biologia diversos seres experimentam um processo metamorfósico na sua existência. Alguns para resistir ao processo, ou simplesmente com o intuito de prolongar um pouco sua efêmera existência se sujeitam a enormes aventuras. É o caso das borboletas monarcas, que a cada inverno empreendem voo por mais de três mil km, tentando resistir à mudança radical que invariavelmente ocorrerá pouco depois de se ter encerrado o período de hibernação.
Tal como se sucede em todos os campos civilizacionais, a educação passa por mudanças profundas, radicais e amedrontadoras. Não é possível, nem de longe imaginar, que a Educação permanecesse alheia a este processo o qual obviamente dá medo. Por outro lado não é verdade que a complexidade da mudança seja motivo de medo:

Continuamos fazer as mesmas perguntas fantasmas que, como se sabe, ninguém responderá... Em que sonhos estamos mantidos, entretidos com crises, ao fim das quais sairíamos do pesadelo? Quando tomaremos consciência que não há crise, nem crises, mas mutação? Não mutação de uma sociedade, mas mutação brutal de uma civilização? Participamos de uma nova era, sem conseguir observá-la. Sem admitir e nem sequer perceber que a era anterior desapareceu (FORRESTER, 1997 p. 7 – 8).
É isso, o que se experimenta na educação em nossos dias e certamente aos profissionais da educação se pode aplicar as palavras do Profeta Jeremias:

Quando Deus chamou Jeremias para ser profeta (1:5), ele não queria aceitar: "Ah, Soberano Senhor! Eu não sei falar, pois ainda sou muito jovem" (1:6). O Senhor respondeu que ele lhe daria as palavras e que ele determinaria a programação (1:7). Também ele se comprometeu a estar com Jeremias: "Não tenha medo deles, pois eu estou com você para protegê-lo" (1:8).
            Então, cada vez mais se torna necessário estar abertos para a mudança e para o novo, afinal de contas a zona de conforto, na qual estamos acostumados a nos mover e que já dominamos bem, está deixando de existir, ou seja, está ficando para trás.

Quando contemplamos o mundo que vai se delineando nesta segunda década do Séc. XXI percebemos que nunca o homem pode exercitar com tanto vigor o seu direito de escolha. Apesar dos limites e contradições imensos que sabemos existir neste planeta tão vasto e plural, onde encontramos desde a opulência mais exacerbada até a miséria mais absurda, onde, em meio a regimes políticos democráticos, sobrevivem ainda ditaduras brutais, apesar de tudo isso, a História aponta na direção do exercício cada vez maior da liberdade humana.
Não há entusiasmo ufanista nessa afirmativa, pois ninguém é livre se não tem o mínimo para sobreviver com dignidade. Ninguém é livre se passa necessidades que afrontam sua dignidade como pessoa. E há ainda, no mundo, um contingente imenso de pessoas a quem são negados direitos que nem podemos chamar de humanos: comer, se abrigar, cuidar da cria, é direito de bicho. Gente quer e precisa de mais. Gente é pra brilhar, como disse o Caetano.
A contradição fica ainda maior quando constatamos que o Homem, hoje, mais que em qualquer outro tempo na História, tem meios, tecnologia e conhecimento para acabar com a miséria absoluta. E aqui faço uma diferença entre pobreza e miséria (http://eduardomachadobh.blogspot.com/2011/03/vida-no-planeta.html, acesso em 09/10/2011).

            Diante disso, os professores não podem olvidar ou se deixar amedrontar pelas novidades e por novos desafios. Para isso ele se fez professor! O novo que se apresenta a cada dia pede que o docente seja capaz de assimilar sempre novas competências para o processo de ensinar e aprender.





[1] Padre Católico e professor na Rede Estadual de Santa Catarina