Revista
Você s/a nº101, 01/11/2006
É incrível como aprendemos sobre
pessoas usando a técnica denominada “observação passiva”. Trata-se,
simplesmente, de prestar atenção ao comportamento humano, especialmente nas
pequenas coisas, sem interferir. Tive recentemente uma experiência com a qual
pude aprender sobre coerência de conduta. Eu estava na sala de embarque do
aeroporto. Também estava ali um conhecido e controvertido político, desses que
passam a maior parte do tempo dando explicações sobre suspeitas de corrupção.
Quando o funcionário anunciou o
embarque, recomendou que se apresentassem primeiro os passageiros das filas 15
a 28. Os demais deveriam esperar. É uma técnica para agilizar a operação. Como
eu estava na fileira 12, esperei. O político, porém, foi o primeiro a se postar
no portão de embarque. Certamente estava no fundo do avião, pensei. Entretanto,
quando entro no avião, ele está sentado em uma das primeiras poltronas.
Durante o vôo refleti sobre o
episódio. Por que o fato me incomodava? Ele não havia atrapalhado a viagem, nem
comprometera a segurança. Sim, mas, por menor que seja, o descumprimento a uma
norma de conduta — ponderei — constitui uma contravenção. Pequena, inocente e
até insignificante, mas, mesmo assim, uma contravenção. Do episódio sobraram
uma constatação e um aprendizado. A constatação: certamente, para ele, o
negócio é levar vantagem, mesmo descumprindo as normas, do avião ou da
República. O aprendizado: a ética nas grandes coisas começa nas pequenas. As
pessoas agem no atacado como no varejo. Creia, você é observado nas pequenas
coisas — positivas e negativas –, principalmente se for o líder de um grupo.
Sempre alguém notará as sutilezas de seu comportamento cotidiano e pensará:
“Ele é assim”.
Para terminar a história do
político, o motorista que me apanhou no aeroporto era seu eleitor e fã, a ponto
de emocionar-se ao vê-lo. E comentou: “Ele é um bom político — rouba, mas faz”.
O que me levou a perguntar-lhe: “O senhor não acha que ele poderia fazer sem
roubar?”. “Mas ele é um político… São todos assim”, ponderou. Esse conceito
conformista explica muita coisa. Segundo ele, quem detém o poder, e pode ajudar
os outros, fica livre de freios morais, aplicáveis aos que dependem de sua
compaixão.
Não se trata disso, e sim de
obrigação. Ele foi eleito para cuidar dos interesses da sociedade, e não dos
seus próprios. Sobre isso, diria Platão: “Ética sem competência não se instala.
Competência sem ética não se sustenta”. A não ser, é claro, que levar vantagem
em tudo seja um traço cultural, o que significaria apunhalar a meritocracia. E
isso não convém a ninguém que considere a ética um valor, especialmente se for
um líder.
PARA ESTUDAR NOS GRUPOS
Em relação à merenda escolar você
acha correto e está disposto a continuar:
a) Furando a fila e prejudicando os
demais;
b) Colocando comida no prato, mais
do que é capaz de comer, versando depois no lixo;
c) Derrubar na mesa e no assoalho de
modo irresponsável;
d) Trocar de copo, prato e talheres
todas as vezes que faço repetição de
comida;
e) Levar copos, pratos, talheres e
outros utensílios de cozinha deixando-os perdidos fora do refeitório;
f) Usar palavrões e não agradecer as
merendeiras e outras pessoas que ajudam no serviço da alimentação escolar;
g) Descreva outros pequenos atos que
julga necessário mudar para ser uma pessoa mais ética na escola e na vida.A ÉTICA
DOS PEQUENOS ATOS
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Você s/a nº101, 01/11/2006
É incrível como aprendemos sobre
pessoas usando a técnica denominada “observação passiva”. Trata-se,
simplesmente, de prestar atenção ao comportamento humano, especialmente nas
pequenas coisas, sem interferir. Tive recentemente uma experiência com a qual
pude aprender sobre coerência de conduta. Eu estava na sala de embarque do
aeroporto. Também estava ali um conhecido e controvertido político, desses que
passam a maior parte do tempo dando explicações sobre suspeitas de corrupção.
Quando o funcionário anunciou o
embarque, recomendou que se apresentassem primeiro os passageiros das filas 15
a 28. Os demais deveriam esperar. É uma técnica para agilizar a operação. Como
eu estava na fileira 12, esperei. O político, porém, foi o primeiro a se postar
no portão de embarque. Certamente estava no fundo do avião, pensei. Entretanto,
quando entro no avião, ele está sentado em uma das primeiras poltronas.
Durante o vôo refleti sobre o
episódio. Por que o fato me incomodava? Ele não havia atrapalhado a viagem, nem
comprometera a segurança. Sim, mas, por menor que seja, o descumprimento a uma
norma de conduta — ponderei — constitui uma contravenção. Pequena, inocente e
até insignificante, mas, mesmo assim, uma contravenção. Do episódio sobraram
uma constatação e um aprendizado. A constatação: certamente, para ele, o
negócio é levar vantagem, mesmo descumprindo as normas, do avião ou da
República. O aprendizado: a ética nas grandes coisas começa nas pequenas. As
pessoas agem no atacado como no varejo. Creia, você é observado nas pequenas
coisas — positivas e negativas –, principalmente se for o líder de um grupo.
Sempre alguém notará as sutilezas de seu comportamento cotidiano e pensará:
“Ele é assim”.
Para terminar a história do
político, o motorista que me apanhou no aeroporto era seu eleitor e fã, a ponto
de emocionar-se ao vê-lo. E comentou: “Ele é um bom político — rouba, mas faz”.
O que me levou a perguntar-lhe: “O senhor não acha que ele poderia fazer sem
roubar?”. “Mas ele é um político… São todos assim”, ponderou. Esse conceito
conformista explica muita coisa. Segundo ele, quem detém o poder, e pode ajudar
os outros, fica livre de freios morais, aplicáveis aos que dependem de sua
compaixão.
Não se trata disso, e sim de
obrigação. Ele foi eleito para cuidar dos interesses da sociedade, e não dos
seus próprios. Sobre isso, diria Platão: “Ética sem competência não se instala.
Competência sem ética não se sustenta”. A não ser, é claro, que levar vantagem
em tudo seja um traço cultural, o que significaria apunhalar a meritocracia. E
isso não convém a ninguém que considere a ética um valor, especialmente se for
um líder.
PARA ESTUDAR NOS GRUPOS
Em relação à merenda escolar você
acha correto e está disposto a continuar:
a) Furando a fila e prejudicando os
demais;
b) Colocando comida no prato, mais
do que é capaz de comer, versando depois no lixo;
c) Derrubar na mesa e no assoalho de
modo irresponsável;
d) Trocar de copo, prato e talheres
todas as vezes que faço repetição de
comida;
e) Levar copos, pratos, talheres e
outros utensílios de cozinha deixando-os perdidos fora do refeitório;
f) Usar palavrões e não agradecer as
merendeiras e outras pessoas que ajudam no serviço da alimentação escolar;
g) Descreva outros pequenos atos que
julga necessário mudar para ser uma pessoa mais ética na escola e na vida.
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