quarta-feira, 6 de maio de 2015

TURMA 204


A ÁGUIA QUE (QUASE) VIROU GALINHA
Rubem Alves

Era uma vez uma águia que foi criada num galinheiro. Cresceu pensando que era galinha. Era uma galinha estranha (o que a fazia sofrer). Que tristeza quando se via refletida nos espelhos das poças d’água tão diferente! O bico era grande demais, adunco, impróprio para catar milho, como todas as outras faziam. Seus olhos tinham um ar feroz, diferente do olhar amedrontado das galinhas, tão ao sabor do amor do galo.
Era muito grande em relação às outras, era atlética. Com certeza sofria de alguma doença. E ela queria uma coisa só: ser uma galinha comum, como todas as outras.
Fazia um esforço enorme para isso. Treinava ciscar com bamboleio próprio. Andava meio agachada, para não se destacar pela altura. Tomava lições de cacarejo.
O que mais queria: que seu cocô tivesse o mesmo cheiro familiar e acolhedor do cocô das galinhas. O seu era diferente, inconfundível. Todos sabiam onde ela tinha estado e riam.
Sua luta para ser igual a levava a extremos de dedicação política. Participava de todas as causas. Quando havia greve por rações de milho mais abundantes, ela estava sempre na frente. Fazia discursos inflamados contra as péssimas condições de segurança do galinheiro, pois a tela precisava ser arrumada, estava cheia de buracos (nunca lhe passava pela cabeça aproveitar-se dos furos para fugir, porque o que ela queria não era a liberdade, era ser igual às outras, mesmo dentro do galinheiro).
Pregava a necessidade de uma revolução no galinheiro. Acabar com o dono que se apossava do trabalho das galinhas. O galinheiro precisava de nova administração galinácea. (Acabar com o galinheiro, derrubar as cercas, isso era coisa impensável. O que se desejava era um galinheiro que fosse bom, protegido, onde ninguém pudesse entrar – muito embora o reverso fosse “de onde ninguém pudesse sair”).
Aconteceu que, um dia, um alpinista que se dirigia para o cume das montanhas passou por ali. Alpinistas são pessoas que gostam de ser águias. Não podendo, fazem aquilo que chega mais perto. Sobem a pés e mãos, até as alturas onde elas vivem e voam. E ficam lá, olhando para baixo, imaginando que seria muito bom se fossem águias e pudessem voar.
O alpinista viu a águia no galinheiro e se assustou.
- O que você, águia, está fazendo no meio das galinhas? Ele perguntou.
Ela pensou que estava sendo caçoada e ficou brava.
- Não me goza. Águia é a vovozinha. Sou galinha de corpo e alma, embora não pareça.
- Galinha coisa nenhuma, replicou o alpinista. Você tem bico de águia, olhar de águia, rabo de águia, cocô de águia. É ÁGUIA. Deveria estar voando... E apontou para minúsculos pontos no céu, muito longe, águias que voam perto dos picos das montanhas.
- Deus me livre! Tenho vertigem das alturas. Me dá tonteira. O máximo, para mim, é o segundo degrau do poleiro, ela respondeu.
O alpinista percebeu que a discussão não iria a lugar nenhum. Suspeitou que a águia até gostava de ser galinha. Coisa que acontece freqüentemente. Voar é excitante, mas dá calafrios. O galinheiro pode ser chato, mas é tranqüilo. A segurança atrai mais que a liberdade.
Assim, fim de papo. Agarrou a águia e enfiou dentro de um saco. E continuou sua marcha para o alto da montanha.
Chegando lá, escolheu o abismo mais fundo, abriu o saco e sacudiu a águia no vazio. Ela caiu. Aterrorizada, debateu-se furiosamente procurando algo a que se agarrar. Mas não havia nada. Só lhe sobravam as asas.
E foi então que algo novo aconteceu. Do fundo de seu corpo galináceo, uma águia, há muito tempo adormecida e esquecida, acordou, se apossou das asas e, de repente, ela voou.

“Lá de cima olhou o vale onde vivera. Visto das alturas ele era muito mais bonito. Que pena que há tantos animais que só podem ver os limites do galinheiro!”


Para o dia 12 de maio apresentar uma produção de texto com uma paráfrase pessoal a partir da parábola: "A  Águia que quase virou galinha".

3 comentários:

  1. A importância de conhecer-se a si mesmo

    As pessoas se esquecem de quem são ,por isso elas precisam estar em lugares diferentes para perceber que não se encaixam nos padrões que são de acordo com seu gosto.Assim as pessoas se sentem deslocadas e estranhas no seu ponto de vista e dos outros,como aconteceu comigo quando comecei a frequentar a uma escola nova,até mesmo a cidade diferente me fez pensar se me encaixo,se não sou ao contrario das pessoas daqui,mas mesmo assim estou tentando me adaptar melhor as mudanças.Até que me questionei,e porque eu não posso ser do meu jeito e os outros se adaptarem comigo? E foi assim que achei melhor lidar com isso,as coisas foram mais fáceis e se aprimorando de acordo com as mudanças.O melhor de tudo é que hoje em dia estou me conhecendo mais e aceitando meu modo de ser,ou seja ,diferente dos outros ao meu redor .

    Pamela Ribeiro

    ResponderExcluir
  2. No mundo em que vivemos muitas pessoas querem ser iguais ou pensam ser iguias a outras pessoas,se esquecem de suas qualidades e talentos.
    Devemos nos aceitar como somos nao ligar para a aparencia e pelo que os outros dizem.
    Temos sempre de nos peguntar quem somos e questionar.
    Nunca se importar com a aparencia e sim com o carater.

    ResponderExcluir
  3. A águia que quase virou galinha

    Eu me encaixaria muito bem, pois muitas vezes eu só queria ser como todos e fazer as mesmas coisas que as outras pessoas fazem.
    Mas como todos os dias eu vejo, eu não posso ser igual as outras pessoas por que como a águia nasceu para voar, eu nasci para ser diferenciado dos outros.
    Dia após dia eu faço as mesmas coisas tentando ser igual aos outros, mas sempre tem algo que me diferencia e que eu não posso evitar.
    Eu tenho muitos pontos negativos mas também tenho pontos positivos, e são esses pontos positivos que fazem eu ser diferentes das outras pessoas, muitas vezes não queria ter esse pontos positivos mas eu vejo que sem eles eu seria apenas uma copia ou algo parecido. E como a águia eu talvez esteja somente esperando o momento certo para voar.
    Turma: 204
    Aluno: Joao Vitor

    ResponderExcluir

Obrigado por sua participação.