Elcio Alberton
I - SITUANDO A QUESTÃO
1-Como se pode perceber no artigo
“Ensino Médio Integral – Um novo olhar para a Educação” constata-se que sou um “apaixonado” por esta
modalidade de escola. Sou professor na Escola de Educação Básica Prof.ª Adelina
Regis – Videira – SC. A partir das minhas convicções sobre esta modalidade de
ensino e o dia a dia da escola, sinto-me
no dever de fazer algumas sugestões que considero adequadas para “reencantar”
esta iniciativa que foi “perdendo sapatos” ao longo dos anos. Sobre elas estou
disposto a conversar pessoalmente em ocasião oportuna.
2 - A Escola em referência serviu de piloto para a
experiência do ensino médio inovador que teve início em 2009. Naquela
modalidade em que os alunos permaneciam na unidade escolar dois períodos no contra
turno aconteciam as oficinas e se realizavam projetos. Inicialmente
funcionaram, mas aos poucos a modalidade foi perdendo o encantamento e as
próprias oficinas e projetos deixaram de ser realizadas com a mesma intensidade
do “primeiro amor”. Em síntese
perdeu os “sapatos” e o “encanto”. Em 2013
quando a escola encerrou a última turma naquela matriz concluíram o 3º ano do
ensino médio 14 dos mais de 60 que
haviam iniciado em 2011.
3 - Em 2012 a escola foi contemplada com a implantação do
“Ensino médio integral” agora com os
alunos permanecendo cinco dias da semana dois turnos na escola. No projeto
constavam diversas iniciativas, algumas descritas no artigo há que estou me
reportando. O projeto contemplava ainda a valorização do professor com a
possibilidade de realizar 18 horas de aula sem a presença de alunos, numa carga
de 40 horas, isso significa mais de 30% da carga horária. Neste conjunto estão
as denominadas “aulas de planejamento”.
A escola foi contemplada com a contratação de UM professor orientador de
convivência, orientador de leitura, orientador de laboratório, música, dança,
judô, esportes, espanhol, informática e empreendedorismo. A escola passou a oferecer três refeições
diárias para todos os alunos. E consequentemente o valor do PDDE multiplicado
por três. Sem contar outras vantagens oferecidas pela SED na forma de material
escolar e pedagógico. Em fevereiro de 2012 um curso rápido (20 horas) foi
realizado em Treze Tílias, do qual alguns professores da escola participaram
com vistas a efetivação da experiência. Razões não suficientemente esclarecidas
levaram em 2013 reduzir dois períodos e reorganizar a grade curricular
denominando novamente a iniciativa de “Ensino Médio Inovador”.
II - A REALIDADE DA ESCOLA
4 - No ano de 2012 depois de
ampla divulgação na mídia e em parceria com outras instituições, em apenas três
dias, no período de matrículas, foram matriculados mais de 200 alunos
constituindo sete turmas para o período integral. O máximo de alunos que a
unidade escolar comportava. Em 2013 a divulgação e as parcerias não aconteceram
e a escola iniciou o ano letivo com seis turmas, (+ ou – 180 alunos); em 2014
iniciaram nesta modalidade cinco turmas (em torno de 150 alunos).
5 - Das sete turmas iniciadas em
2012 num total aproximado de 210 alunos, estão concluindo o terceiro ano em
2014 2 turmas com pouco mais de 50 alunos. As turmas iniciadas em 2013 estão
reduzidas a quatro com um número aproximado de 100 alunos. Das cinco turmas
iniciadas em 2014 já se pode notar uma redução de 15% de alunos a esta altura
do ano letivo. Neste ano (2014) a escola voltou a oferecer o ensino médio
regular (em turno único) no período vespertino no qual foram matriculados em
torno de 60 alunos constituindo duas turmas. É verdade que parte dos alunos que
saíram do ensino médio em período integral começou trabalhar e outros foram
cursar ensino técnico no sistema “S”.
6 - O grupo de professores que
participa do projeto percebeu a valorização que
receberam e tem em alta estima as “aulas de planejamento” a “realização
de projetos” e as denominadas disciplinas “optativas”. A escola foi aparelhada de modo razoável, não
obstante as limitações do espaço físico e da disposição arquitetônica da
escola, cujo prédio com mais de 30 anos de construção, entre outros limites não
oferece condições de acessibilidade.
7 - Os recursos pedagógicos e
didáticos foram ampliados e colocados a disposição da comunidade escolar embora
com limites, alguns deles na ordem de gestão.
III - LÍMITES E SUGESTÕES
8 - Tentando ser objetivo em
relação ao que me parece serem limites enfrentado pela escola, pelo corpo
docente e pela equipe gestora enumero alguns itens com a respectiva sugestão
numa tentativa de recuperar a credibilidade e a viabilidade da iniciativa, que
de todo é louvável.
a) O
corpo docente carece de formação continuada mesmo (não de cursinhos
esporádicos). Isto significa um curso
longo sobre “Planejamento”. Na pesquisa que fizemos em vista do artigo em
referência os professores responderam que o planejamento acontece, mas todos
deram respostas muito distintas e totalmente sem coerência. E de fato este é um
ponto crucial no cotidiano da escola;
b) O
corpo docente carece de uma “Injeção de paixão”. Boa parte dos professores não
acredita na proposta e não consegue ver a valorização que recebe se não sob a
ótica do econômico. Eu chamo isso de carência de “mística”.
c) A
equipe gestora e os ATPs não foram devidamente preparados para esta “nova
escola nova” Isso se reflete, entre outros, no fato de não ter sido construído
um PPP para esta nova modalidade. O PPP da escola foi apenas emendado e
remendado a partir daquilo que já existia no modelo antigo e mesmo assim longe
de qualquer processo participativo mais amplo.
d) Os
professores orientadores de leitura, e de todas as disciplinas “optativas” que
quase na totalidade são ACTs são novos a cada ano na escola e igualmente não
recebem formação específica para atuar nesta modalidade de ensino.
e) Todas
as disciplinas optativas e os projetos sendo realizados intercalados com as
disciplinas regulares dificultam o cumprimento da carga horária mínima das
disciplinas bem como de conteúdo mínimo. (Exemplo: na disciplina de filosofia
em maio de 2014 ocorreu casos em que uma turma teve duas aulas durante um mês,
já que todas as demais foram ocupadas por projetos). Nossa sugestão é que estas
disciplinas e todos os projetos devam ser realizados no período do contra
turno.
f) Voltar
a oferecer cinco períodos num turno e quatro períodos no outro, sendo que
atividades denominadas “para casa” possam ser feitas na escola com
acompanhamento dos professores que estão na escola em hora atividade.
g) O
professor Orientador de Convivência precisa ser uma pessoa com formação em
magistério e pedagogia com pós-graduação na área de gestão ou planejamento. Ao
contrário do que é exigido hoje “licenciatura em Educação Física”.
h) O
orientador de convivência precisa compor a equipe gestora da escola sendo
“proativo” e não “reativo”. Tentando
explicar: não deve ser alguém que corre atrás do problema, mas que se antecipa
a eles por meio de orientação pedagógica segura para toda a comunidade escolar.
Neste caso também este deve receber mais formação para a função. E
preferencialmente ser um professor efetivo na escola.
i)
Para cada
300 alunos deveria ter pelo menos um orientador de convivência, cuja
denominação seria melhor “coordenador de curso”. Quanto a remuneração ele deve
ser incluído entre os profissionais que recebem “gratificação por função”. Como
está hoje ele recebe apenas regência de classe, cumpre 8 horas (relógio) e não
tem direito a aula excedente.
j)
Quando falamos num trabalho reativo temos
presente o que acontece na nossa escola em que a maior parte do tempo do
Orientador de convivência é ocupado para resolver e aplicar medidas disciplinares aos alunos
que são “enviados para a direção”.
k) Parece
ser indispensável a figura de um profissional na área de Psicologia Escolar,
para trabalhar as questões de relacionamento com alunos e pais, sobretudo,
tendo em conta que as famílias contemporâneas podem ser denominadas de
“Mosaico” (onde na mesma casa vivem ‘os meus filhos, os teus filhos, e os
nossos filhos’).
l)
Talvez o orientador pedagógico pudesse trabalhar
com as famílias, mas parece mais adequado que o psicólogo escolar pudesse fazer
isso. Trata-se de desenvolver um trabalho capaz de envolver efetivamente as
famílias. Isso é o que se chama de “democratizar a gestão da escola”, que vai
muito além da eleição para diretores.
m) Acho
fundamental que nas GEREDs tenha um profissional na DIEB com dedicação
exclusiva para a formação de professores que atuam no EMI cujo conteúdo deva
ser continuado e ter em conta antes a “pessoa do professor” mais do que aspectos
pedagógicos, didáticos e legais.
n) Uma
alternativa legal parece ser efetivar para as escolas de ensino em tempo
integral a chamada “Matrícula concomitante”, isso é, alunos que façam matrícula
em algum curso técnico possam ser matriculados num turno na escola de tempo
integral já que o temo dedicado ao curso técnico seria o mesmo que na escola de
tempo integral e seria dedicado às disciplinas optativas e aos projetos.
Com estas considerações
acreditamos estar colaborando para que a escola em tempo integral garanta sua
continuidade tendo também possibilidade de oferecer formação integral.
Prof. Elcio Alberton
Matrícula 317512-0-02
Fone: 49 99528159 – 49 35662663